A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
V Domingo da Quaresma
Is 43, 16-21 Fl 3, 8-14 Jo
8, 1-11
ESCUTAR
“Eis que farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 19).
“Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente” (Fl 3, 13).
“Então Jesus lhe disse: Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (Jo 8,11).
MEDITAR
Digo não a um estilo de vida marcado pelas “manias”, pelas “disputas”, pelas “astúcias” em detrimento do zelo evangélico e da qualidade de vida da comunidade (Abbé Pierre).
Jesus nos pede para acreditar que o perdão é a porta que conduz à reconciliação. [...] A cruz do Cristo revela o poder que Deus tem de dissolver toda divisão, de curar toda a ferida e de restabelecer todas as relações originais de amor fraterno (Francisco, Homilia, Seul, 18 de agosto de 2014).
ORAR
As leituras de hoje têm um tema em comum: Deus como produtor da novidade. O Senhor é aquele que sempre faz uma coisa nova. E a novidade nunca pode ser separada do risco. Não se dão explicações velhas para os novos desafios: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” e nem existe uma única e segura resposta que seja válida para todos os casos. Para cada desafio existem várias respostas e elas sempre deverão ser dadas por plenitude e nunca por carência. A resposta dada apressadamente e por carência se converterá em fracasso, aumentará a desilusão e a angústia e poderá se transformar num caminho sem volta. O Senhor mostra que o caminho se descobre caminhando; sua revelação só chega quando nos colocamos em movimento e nos deixamos surpreender por Deus. Paulo reafirma esta dinâmica: “esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente” e a novidade é sustentada pela esperança e não por uma entorpecida e restrita acomodação. É inútil parar para termos a certeza de que estávamos caminhando, assim como é inútil afirmar certezas para garantir que acreditamos. O Senhor nos faz saber que a fé não se possui, mas que somos possuídos e alcançados por Alguém. O evangelho revela esta novidade por meio da contraposição entre as exigências implacáveis da Lei e o ato de misericórdia de Jesus. Os acusadores negam à mulher a possibilidade de um novo começar e querem, com pedras, não só sepultar o passado desta pecadora, mas ela própria. Cristo, com seu perdão, liquida definitivamente o passado e entrega à mulher um futuro a ser construído por ela mesma. O castigo dos algozes se tornou estéril, pois a não condenação pelo Cristo reinventa a vida. As frias exigências se gravam sobre a pedra, mas a misericórdia não está escrita sobre nenhuma matéria dura. A nova lei – a do amor – se traça no terreno maleável do coração, sobre a tenra e terna carne da terra. Resta apenas matar a nossa curiosidade de saber o que escrevia Jesus, com o dedo, no chão do Templo. Jesus escrevia a condenação aos escribas e fariseus e continua até hoje escrevendo em silêncio aos moralistas de plantão que se evadem e se esquivam da barbárie do mundo degenerado que construíram: “As prostitutas vos precedem no Reino do meu Pai (Mt 21, 31).
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
Rosaria Schifani, 1992, Letizia Battaglia
(1935-), Palermo, Itália.