quinta-feira, 31 de março de 2022

O Caminho da Beleza 19 - V Domingo da Quaresma

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

V Domingo da Quaresma       

Is 43, 16-21             Fl 3, 8-14                 Jo 8, 1-11

 

ESCUTAR

“Eis que farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 19).

“Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente” (Fl 3, 13).

“Então Jesus lhe disse: Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (Jo 8,11).

 

MEDITAR

Digo não a um estilo de vida marcado pelas “manias”, pelas “disputas”, pelas “astúcias” em detrimento do zelo evangélico e da qualidade de vida da comunidade (Abbé Pierre).

Jesus nos pede para acreditar que o perdão é a porta que conduz à reconciliação. [...] A cruz do Cristo revela o poder que Deus tem de dissolver toda divisão, de curar toda a ferida e de restabelecer todas as relações originais de amor fraterno (Francisco, Homilia, Seul, 18 de agosto de 2014).

 

ORAR

       As leituras de hoje têm um tema em comum: Deus como produtor da novidade. O Senhor é aquele que sempre faz uma coisa nova. E a novidade nunca pode ser separada do risco. Não se dão explicações velhas para os novos desafios: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” e nem existe uma única e segura resposta que seja válida para todos os casos. Para cada desafio existem várias respostas e elas sempre deverão ser dadas por plenitude e nunca por carência. A resposta dada apressadamente e por carência se converterá em fracasso, aumentará a desilusão e a angústia e poderá se transformar num caminho sem volta. O Senhor mostra que o caminho se descobre caminhando; sua revelação só chega quando nos colocamos em movimento e nos deixamos surpreender por Deus. Paulo reafirma esta dinâmica: “esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente” e a novidade é sustentada pela esperança e não por uma entorpecida e restrita acomodação. É inútil parar para termos a certeza de que estávamos caminhando, assim como é inútil afirmar certezas para garantir que acreditamos. O Senhor nos faz saber que a fé não se possui, mas que somos possuídos e alcançados por Alguém. O evangelho revela esta novidade por meio da contraposição entre as exigências implacáveis da Lei e o ato de misericórdia de Jesus. Os acusadores negam à mulher a possibilidade de um novo começar e querem, com pedras, não só sepultar o passado desta pecadora, mas ela própria. Cristo, com seu perdão, liquida definitivamente o passado e entrega à mulher um futuro a ser construído por ela mesma. O castigo dos algozes se tornou estéril, pois a não condenação pelo Cristo reinventa a vida. As frias exigências se gravam sobre a pedra, mas a misericórdia não está escrita sobre nenhuma matéria dura. A nova lei – a do amor – se traça no terreno maleável do coração, sobre a tenra e terna carne da terra. Resta apenas matar a nossa curiosidade de saber o que escrevia Jesus, com o dedo, no chão do Templo. Jesus escrevia a condenação aos escribas e fariseus e continua até hoje escrevendo em silêncio aos moralistas de plantão que se evadem e se esquivam da barbárie do mundo degenerado que construíram: “As prostitutas vos precedem no Reino do meu Pai (Mt 21, 31).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Rosaria Schifani, 1992, Letizia Battaglia (1935-), Palermo, Itália.




 

quinta-feira, 24 de março de 2022

O Caminho da Beleza 18 - IV Domingo da Quaresma

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

IV Domingo da Quaresma     

Js 5, 9-12                 2 Cor 5, 17-21                    Lc 15, 1-3.11-32

 

ESCUTAR

“Hoje tirei de cima de vós o opróbio do Egito” (Js 5, 9).

Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo (2 Cor 5, 17).

“‘Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’” (Lc 15, 32).

 

MEDITAR

Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da autoreferencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser verdadeiro (Francisco, Evangelii Gaudium).

Perdoar a uma cascavel: exercício de santidade (João Guimarães Rosa).

 

ORAR

A conversão não se reduz a um pequeno ajuste, a um retoque de fachada, a uma minúscula mudança que não incomoda demais, a uma modificação insignificante. A conversão é uma transformação radical nos pensamentos, palavras, mas, sobretudo, nos atos. O tema da novidade radical, representada pela conversão, é destacado por Paulo: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo”. Na parábola, o filho mais novo é um abusado e o mais velho, um insuportável possuidor de direitos, enjaulado nas leis e na estrita observância. Não cometeu faltas graves, mas vive sem amor e sua intolerância o amargou. Necessita de proteção e se sente seguro ao cumprir os seus deveres sem jamais se arriscar. Tornou-se um calculista, um burocrata da virtude sem nenhum brilho de vida, de alegria ou espontaneidade. Há um abismo entre ele e o irmão mais novo, mas um abismo ainda maior entre ele e seu pai. Ele fala de novilhos, cabras, bois, justo e injusto; o pai fala de gente encontrada e ressuscitada. Ele fala a língua da lei, da intolerância e do castigo e o pai se exprime na língua do perdão, da ternura e da misericórdia. O pai se coloca numa dimensão de gratuidade e o filho mais velho permanece na trincheira de uma mentalidade de justiça distributiva. O filho mais velho, ao se julgar justo, se coloca distante do amor do pai a quem serve com um espírito de escravo e não com a gratidão e alegria de filho amado: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu”. Jesus narra esta parábola para os justos fariseus e não para os pecadores. Não há final feliz nela. Este final feliz só acontecerá quando o justo não excluir o irmão que mostre algum sinal de conversão. Quando o justo descobrir que a fidelidade não é simplesmente um permanecer irredutível, mas aceitar cotidianamente as novidades, a lógica paradoxal e as iniciativas desconcertantes de Deus. Como escreveu o teólogo Urs von Balthasar: "Os pecadores conhecem a Deus, os justos ainda O estão procurando". E como declara o Cristo: “Haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15, 7).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

O Pai que perdoa, 1998, Frank Wesley (1923-2002), pintura em bloco de madeira impressa em papel de seda, Índia.




 

 

 

 

 

 

domingo, 20 de março de 2022

O Caminho da Beleza 17 - III Domingo da Quaresma

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

III Domingo da Quaresma                

Ex 3, 1-8.13-15                  1 Cor 10, 1-6.10.12                       Lc 13, 1-9

 

ESCUTAR

“Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3, 7-8).

“Não murmureis, como alguns deles murmuraram e, por isso, foram mortos pelo anjo exterminador. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1 Cor 10, 10.12).

“Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou” (Lc 13, 6).

 

MEDITAR

“O Reino une. A Igreja divide quando não coincide com o Reino” (D. Pedro Casaldáliga).

“Deus, que se fez Cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucifixo e não pelos que crucificam. O mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens” (Bento XVI).

 

ORAR

O Senhor se revela, sobretudo, nas ações realizadas em favor do seu povo e estas ações exigem, de nossa parte, uma resposta precisa. Não basta maravilhar-se apenas, é necessário corresponder a elas no dia a dia. Muitas vezes o orgulho habita as nossas práticas e deturpa o sentido real da vida cristã. Os sacramentos não são a garantia contra a tentação, o risco da concessão e o perigo da infidelidade. Eles não são o ponto definitivo da chegada, mas acompanham o largo caminho que devemos percorrer, passo a passo, na imperiosa busca de coerência e de verdade. Os que acreditam são itinerantes, peregrinos e permanecem firmes “como se vissem o Invisível” (Hb 11, 27). Nesta travessia, a existência cristã estará sempre ameaçada pela arrogância: “Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair”. Devemos estar alertas para não seguirmos as trilhas de uma espiritualidade irresponsável, uma vez que, a esperança não dispensa a vigilância e a confiança não exclui os olhos abertos. O Senhor vê a aflição do seu povo e está presente no mundo se não estivermos ausentes; está perto dos homens se nos fizermos próximos. Quando o Senhor se revela não é para satisfazer a curiosidade nem para facilitar informações gratuitas, mas para que assumamos o que deve ser feito. Moisés se aproxima curioso: “Vou aproximar-me desta visão extraordinária para ver por que a sarça não se consome” e a sua curiosidade se converte em missão: recebe do Senhor a ordem de libertar o seu povo da escravidão. O evangelho revela que nenhuma árvore plantada pelo Senhor é puro adorno. As figueiras e as vinhas para os israelitas eram o sinal de que um dia possuiriam a Terra Prometida e os fazia recordar o paraíso perdido. A vinha do Senhor é o povo eleito e contém algo de misterioso: ela só vale pelos frutos que produz e oferece. O Filho pede ao Pai um pouco de paciência para que o tempo do amor, que ainda será dedicado à figueira sem frutos, possa garantir a ela uma nova possibilidade. A figueira pode se tornar uma intrusa na vinha do Senhor caso não frutifique assim como a Sinagoga não criava comunidades de amor, mas relações mercantilizadas em que o dinheiro era o grande e o único ídolo. O Senhor é tão clemente que se compadece, quando nós, rompendo o orgulho, confessamos a nossa impossibilidade de dar frutos. Podemos ser atacados pelo fungo das boas intenções e pelo caruncho da acomodação que nos aprisionam num espiritualismo de evasão que confunde a vida espiritual – conduzida pela liberdade do Espírito – com uma vida interior presa dentro de si e para si. O Senhor espera que descubramos e abracemos a Cruz do Filho que é a única árvore que não trai as nossas esperanças. É a compaixão do Pai que nos permite o arrependimento e o recomeçar de cada dia, pois nenhuma instituição religiosa poderá colocar limites à misericórdia de Deus. Meditemos as palavras do dominicano Bruckberger: “O demônio é um puritano de finos tratos. Estou certo que o anticristo será semelhante a ele neste ponto: a sua corte será virtuosa no sentido mais vulgar e corrente do vocábulo; as esposas tricotarão para as suas obras de caridade e seus maridos beberão leite e não terão amantes, pois as verdadeiras cumplicidades com o demônio não estão no plano destes [pequenos] pecados ordinários”. Quem puder entender que entenda!

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

A Sarça Ardente, 1990, Shraga Weil (1918-2009), serigrafia n. 244/400, 107 cm x 76 cm, Israel.




 

quinta-feira, 10 de março de 2022

O Caminho da Beleza 16 - II Domingo da Quaresma

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

II Domingo da Quaresma

Gn 15, 5-12.17-18             Fl 3, 17- 4,1             Lc 9, 28-36

 

ESCUTAR

“Olha para o céu e conta as estrelas se fores capaz!” E acrescentou: “Assim será a tua descendência” (Gn 15, 5).

Há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas (Fl 3, 18-19).

Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29).

 

MEDITAR

Devemos saber enfrentar o medo. Se pararmos ou voltarmos atrás estamos perdidos. Devemos discernir o momento em que contamos somente com as nossas próprias forças. Se esquecermos a confiança em Jesus estamos perdidos, assim como, se esquecermos a misteriosa atração que nos conduz a escolher um engajamento, uma pessoa, uma amizade ou quem motivou uma promessa. A vida se joga na confiança e o medo e a confiança não caminham juntos. 

(Cardeal Carlo Martini)

 

ORAR

      A liturgia da Palavra nos faz uma tríplice revelação. A primeira, a de que Deus é um Deus fiel que mantém as suas promessas. A segunda, a da divindade de Jesus e do seu mistério Pascal: o Cristo transfigurado será, brevemente, um Cristo desfigurado. A terceira, a revelação do mistério do homem peregrino, cidadão do céu que vive na precariedade do corpo à espera da sua transfiguração num corpo glorioso. A dinâmica da vida cristã se apresenta numa dupla dimensão: provisoriedade e tensão até a morada definitiva. Abrão caminha às escuras e se contenta em olhar um céu estrelado. Para ele, a terra é somente uma promessa garantida pela Palavra de Deus. Desta futura realidade, Abrão não possui sequer uma pequena antecipação para sustentar a sua fé. Suas mãos seguem vazias como vazio está o ventre de Sara. A fé, quando autêntica, atravessa o áspero terreno da prova. O evangelho da Transfiguração revela que ninguém pode inventar para si mesmo um caminho privado que evite o caminho do Calvário. Jesus transfigurado será dentre em pouco o Cristo desfigurado da Paixão para ser, novamente, o Jesus transfigurado da Ressurreição. Uma Igreja que não aceita esta travessia – da transfiguração à desfiguração – para encontrar o Cristo Ressuscitado, será apenas uma Igreja deslumbrada com seu próprio estômago. Uma Igreja que fabrica e vende ilusões de que podemos participar do triunfo do Ressuscitado e que considera ultrapassada a realidade da Cruz. Uma Igreja centrada no legalismo como solução de facilidade e segurança mais do que nas ásperas exigências do Cristo de amar e de perdoar. Neste dia devemos perguntar no mais íntimo de nós: “Qual é o nosso Deus? A quem amamos e servimos?”, pois dependendo da resposta saberemos onde está o nosso tesouro, pois aí estará o nosso coração (Lc 12, 34).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Reflexões da Fé, 2014, Celso II Creer (1979-), Monochrome Photography Awards 2014, Abu Dhabi, Emirados Árabes.




 

 

quinta-feira, 3 de março de 2022

O Caminho da Beleza 15 - I Domingo da Quaresma

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

I Domingo da Quaresma                    

Dt 26, 4-10              Rm 10, 8-13                       Lc 4, 1-13

 

ESCUTAR

“Agora trago os primeiros frutos da terra que tu me deste, Senhor” (Dt 26, 10).

“Essa é a palavra da fé que pregamos. Se, pois, com tua boca confessares que Jesus é Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10, 8-9).

“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do rio Jordão e, no Espírito, era conduzido pelo deserto. Ali foi posto à prova pelo diabo, durante quarenta dias” (Lc 4, 1-2).

 

MEDITAR

“Ser cristão é se reconhecer salvo por Jesus, vivendo uma aventura de amizade pessoal com ele, acolhendo o amor com que nos ama, a ponto de dar sua vida por nós, e nos empenhando pessoalmente em amá-lo, vivendo entre nós no amor uns dos outros, o mesmo amor com que Jesus nos ama” (Francisco Catão).

Não nos transformamos de repente em corruptos; existe um longo caminho de declínio, para o qual se desliza... A corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver (Francisco, O nome de Deus é misericórdia, 2016).

 

ORAR

As leituras desta liturgia oferecem as três bases necessárias para a quaresma: a ação de graças, a confissão de fé e a purificação por meio da Palavra. O sacerdote oferece o cesto com as primícias: uma pequena parte da colheita. Para o Senhor não importa a quantidade, mas o significado, pois a colheita dos campos, antes de ser fruto do trabalho do homem, é dom e bênção de Deus. Ao confessarmos que Jesus é o Senhor que morreu e ressuscitou, devemos fazê-lo com a boca e com o coração numa profunda adesão pessoal. O evangelista apresenta o relato das tentações a Jesus. Elas não são propriamente de ordem moral, mas propostas claras das maneiras falsas de se compreender e viver a missão: as tentações de um atalho, de um triunfo fácil e da popularidade pelos gestos espetaculares. Jesus rechaça todas as propostas do Divisor, citando as palavras da Escritura e ratificando a sua determinação de cumprir, unicamente, o desígnio do Pai. O tempo da quaresma deve ser um tempo propício para avaliarmos e constatarmos se as nossas vidas correspondem aos desígnios do Senhor. É o tempo de purificarmos, por meio da Palavra de Deus, as superstições, os desvarios, as ostentações com as quais vestimos a nossa pretensa prática cristã. É o tempo para rechaçar os comprometimentos que traem a mensagem evangélica. É o tempo para recusar uma religiosidade construída à nossa medida e nos convertemos aos caminhos propostos por Jesus. Isto será possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Na quaresma, devemos ser capazes de um pouco de deserto, de um pouco de silêncio e de um mínimo de coragem para irmos às raízes mais profundas da fé e do amor. A conversão a que somos convidados não é outra coisa que dar as costas aos nossos medíocres projetos, às nossas míopes aspirações e voltarmos, de peito aberto e corpo inteiro, ao desígnio original do Senhor: amar! A penitência é a nostalgia da nossa autêntica grandeza. A quaresma nos chama a abandonarmos todos os ídolos que se apresentam sob a aparência de objetos de adoração. Os ídolos são sempre novos, mas as raízes que os produzem são as tentações da riqueza, do poder e do orgulho. E elas, como o diabo, sempre retornam no tempo oportuno.

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Argentina, Peninsula Valdes, 2001, Elliott Erwitt (1928-), Magnum Photos, franco-americano.