A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
VIII Domingo do Tempo Comum
Eclo 27, 5-8 1
Cor 15, 54-58 Lc 6, 39-45
ESCUTAR
Não elogies a ninguém antes de
ouvi-lo falar, pois é no falar que o homem se revela (Eclo 27, 8).
Meus amados irmãos, sede firmes e
inabaláveis, empenhando-vos, cada vez mais na obra do Senhor (1 Cor 15, 58).
“Por que vês tu o cisco no olho do
teu irmão e não percebes a trave que há no teu próprio olho” (Lc 6, 41).
]MEDITAR
Quem fala muito, dá bom dia a cavalo.
(João Guimarães Rosa, 1908-1967, Brasil)
ORAR
Guimarães Rosa já dizia que o “pior cego é aquele que vê”. Enxergamos no outro aquilo que não vemos em nós mesmos, como diz a parábola do evangelho de hoje. Jesus recusou radicalmente qualquer situação de poder, pois sabia que o poder corrompe o espírito e nos cega para o mundo. No poder, executamos o julgamento fácil, projetando para o outro, que é diferente de mim, todos os defeitos e fraquezas que ocultamos em nós mesmos. Lembremos o que disse o sábio místico e eremita João Clímaco sobre a recusa evangélica do julgamento fácil entre os monges que buscavam o amadurecimento espiritual. “As quedas dos iniciantes provêm, na maior parte, da avidez (e vaidade). Nos que progridem vêm também de uma alta consideração por si mesmos (o orgulho). [Mas] para os que se aproximam da perfeição, vêm unicamente do fato de julgar o próximo”. Temos que estar vigilantes para que nossas instituições não se tornem uma máquina que destrói as pessoas ou, ao contrário, justifica as suas infidelidades. Precisamos orar e nos colocar à disposição do Espírito para que possamos sempre renunciar a ver e a escutar na Palavra de Deus apenas o que nos convém, o que está de acordo com os nossos hábitos e costumes, nossos gostos e índoles e os de nossas instituições e movimentos. Muitas vezes, somos cegos em perceber que o pão que oferecemos é acompanhado de dominação, de exploração, de destruição da natureza, de amargura ocasionada pela concorrência, de corrupção dos interesses, mas, sobretudo, da má distribuição mundial: a abundância de uns e a pobreza de muitos. O vinho que oferecemos é um dos instrumentos mais trágicos da degradação humana: embriaguez, alcoolismo, lares desfeitos, dívidas e suicídios. Na eucaristia, ao oferecermos, na mesa do Senhor, pão e vinho, frutos da terra, da videira e do trabalho, nos comprometemos a oferecer tudo o que eles significam: tudo o que está fragmentado e sem amor; tudo o que está dissolvido na mentira e na hipocrisia. A cada novo ofertório, para que o pão e o vinho se transformem, pelo Espírito, no corpo e sangue de Jesus, nos comprometemos, definitivamente, com a dor, a miséria e a perplexidade do mundo, mas também com a fraternidade, a compaixão, a solidariedade e os pequenos gestos de amor que transformam vidas e podem criar “um novo céu e uma nova terra onde habitará a justiça” (2 Pd 3, 13). O mais importante é sabermos o que somos diante de Deus e não o que parecemos ser aos olhos dos outros. Por isso, devemos orar como São Tomás de Aquino: “Concede-me, Senhor Deus, um coração vigilante que nenhum pensamento estranho afaste para longe de Ti; um coração nobre que nenhuma afeição indigna abata; um coração reto que nenhuma intenção equívoca desvie; um coração firme que nenhuma adversidade quebre; um coração livre que nenhuma paixão violenta domine”.
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
"O pior cego é aquele que vê", 2022, Manos da Terna Solidão, Curitiba, Brasil.