A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de
dois gumes (Hb 4, 12).
II Domingo do Tempo Comum
Is 62, 1-5 1
Cor 12, 4-11 Jo 2,
1-12
ESCUTAR
“Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam; e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (Is 62, 5).
“Há diversidades de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 4-7).
“Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não tem mais vinho!’” (Jo 2, 3).
MEDITAR
Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas, aos poucos, é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias (Francisco, Evangelii Gaudium, 6).
“Aquele que vê
sofrer o seu irmão na necessidade e lhe fecha seu coração exclui Deus do seu
próprio coração. O amor de Deus e o do próximo são como duas portas que só
podem ser abertas e fechadas ao mesmo tempo” (Soren Kierkegaard).
ORAR
A inauguração da vida pública de Jesus é colocada, pelo evangelista, num contexto de festa de bodas. Aos nossos olhos, não parece ser o melhor lugar para os seus discípulos iniciarem o seu noviciado. Tudo começa numa festa para que nossa alegria não se empobreça. É um grande equívoco unir a Sua presença aos momentos de dor e de dificuldades em nossa existência. Jesus revela que nossas festas são tímidas e frágeis; que a algazarra esconde um vazio e uma angústia; que o vinho é insuficiente e de baixa qualidade. Com Jesus, a festa encontra a sua plenitude e não está limitada ao tempo. Com Ele, o vinho é novamente colocado sobre a mesa e nunca mais faltará. Todos se beneficiarão dos seus dons, inclusive os que não esperam nada Dele. Maria intervém não porque falta o pão, mas falta o vinho que é o símbolo da alegria. As seis talhas de pedra significam o número inacabado da imperfeição em oposição ao número sete que expressa a totalidade e a plenitude. As talhas estão vazias e o ritual complexo das purificações esconde sua ineficácia, pois a relação entre Deus e o homem só pode se restabelecer por meio do amor. Na festa, todos os rituais de purificação foram cumpridos conforme a Lei e, no entanto, só produziram ansiedade, medo e tristeza. Faltara o vinho do amor e Jesus vai oferecer a todos, em abundância, a degustação do seu vinho de ternura e alegria, pois “No amor não há lugar para o temor; ao contrário, o amor desaloja o temor. Pois o temor se refere ao castigo, e quem teme não alcançou um amor perfeito” (1 Jo 4, 18). O cardeal Ravasi é enfático: “O amor que existe sobre a face da terra e que reaparece cada vez que duas criaturas se encontram e se amam é o sinal do amor que Deus tem pela humanidade inteira”. Em Caná da Galileia, Jesus começou os seus sinais para manifestar a sua glória e João não nos fala de “milagres”, mas de sinais. Na festa das bodas, o sinal é dado pela preocupação de Alguém para que a festa seja completa. O Senhor sempre faz sinais, esboça sussurros de ternura e alegria para nos fazer, com o pudor do amor, suspeitar que Ele nos ama e quer intervir na trama ordinária da nossa vida para nos convidar para a festa. O mundo contemporâneo permanece indiferente à mensagem do Evangelho apesar de as pessoas necessitarem de sinais que toquem as suas existências e corações. Sinais de compaixão, sinais de acolhida sem discriminação de pessoas, sinais que possam fazer descobrir nos cristãos a capacidade de se encontrar com Jesus que alivia os sofrimentos e nos sustenta a esperança nas dificuldades cotidianas da vida. Não podemos evangelizar a torto e a direito, como uma catequese de talhas de pedra, numa verborragia que só faz crescer o temor e a ansiedade e que é estéril e inexistente de sinais de vida, de alegria e comunhão compassiva. Escutemos Simone Weil: “Acima da infinidade do espaço e do tempo, o amor infinitamente mais infinito de Deus vem apoderar-se de nós. Ele vem na sua hora. Nós temos o poder de consentir na acolhida ou na recusa. Se ficamos surdos, ele vem e volta novamente como um mendigo, mas também como um mendigo um dia ele não retorna mais”.
(Manos da Terna Solidão)
CONTEMPLAR
Ritmo e Batida na Rua, 2014, Celso II Creer, Monochrome Photography Awards, Emirados Árabes.
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