quinta-feira, 12 de agosto de 2021

O Caminho da Beleza 39 - Assunção de Nossa Senhora

Os transbordamentos de amor acontecem sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa Francisco).

Assunção de Nossa Senhora              15.08.2021

Ap 11, 19;12, 1.3-6.10                  1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56

 

ESCUTAR

Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas (Ap 12, 1).

O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Cor 15, 26).

Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes (Lc 1, 51-52).

 

MEDITAR

Amo-te quanto em largo, alto e profundo

Minha’alma alcança quando, transportada,

Sente, alongando os olhos deste mundo,

Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

 

Amo-te em cada dia, hora e segundo:

À luz do sol, na noite sossegada

E é tão pura a paixão de que me inundo

Quanto o pudor dos que não pedem nada.

 

Amo-te com o doer das velhas penas;

Com sorrisos, com lágrimas de prece,

E a fé da minha infância, ingênua e forte.

 

Amo-te até nas coisas mais pequenas.

Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,

Ainda mais te amarei depois da morte.


(Elizabeth Barrett Browning, 1806-1861, Reino Unido) 

 

ORAR

     Maria nos remete primeiro ao mistério do Cristo. Essa palavra estranha e abstrata – assunção (os Orientais preferem dormição) – quer dizer simplesmente que Maria, a segunda Eva, venceu definitivamente a morte. Ela participa desde já, em sua alma e corpo, da glória do Cristo ressuscitado. Ela é a primeira resgatada e a primeira ressuscitada. É um privilégio inaudito. É por isso que se pode dizer que ela é a mãe de todos os homens e mulheres que nasceram para a vida no Cristo, como Eva é a mãe de toda a humanidade. Mas, ao mesmo tempo, esta pequena filha de Israel é totalmente nossa irmã em humanidade. É por isso que ela é por excelência o triunfo da graça, isto é do dom gratuito de Deus que precede toda obra, todo esforço e todo o mérito do homem. A única coisa que lhe é pedida é consentir com a Palavra de Deus. Isabel pode saudá-la como “bendita entre todas as mulheres”, porque ela acreditou na palavra do anjo. Ela é cheia de graças, em todos os sentidos da palavra graça, e, ao mesmo tempo, a plenitude da gratuidade – como dom de Deus e como dom do homem – e a plenitude inteiramente feminina do encanto e da beleza... Maria, na glória de sua Assunção, é um sinal de esperança para todos os pobres, oprimidos, pequenos, humildes de coração, para todas as mulheres em particular que são sempre exploradas de uma maneira ou de outra pelo egoísmo dos homens. É bom que a liturgia da Assunção nos faça ouvir o cântico do Magnificat. Esse canto de ação de graças nos revela a imagem de um Deus que faz justiça a todos os vencidos da história. É um grito de triunfo que celebra, contra todas as fatalidades da história, uma reviravolta extraordinária: Maria, a desconhecida jovem filha de Israel, torna-se a Rainha do Céu, a Mulher resplandecente que tem o sol por manto e a lua sob seus pés. E Maria é a promessa de uma reviravolta, de uma inversão de papéis que se aplica a toda história dos homens: “O Poderoso fez em mim maravilhas...ele derrubou os poderosos de seus tronos, elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, despediu os ricos de mãos vazias”. Alguns hoje amam ver no Magnificat um verdadeiro canto revolucionário. Eles têm razão. Mas trata-se do poder revolucionário do Evangelho, isto é, da vida segundo as Bem-aventuranças. No 15 de agosto, voltamos nossos olhares para o céu e procuramos entrever Maria na glória inacessível de sua Assunção. Mas Maria mora conosco; ela nos mostra o caminho que vai da terra dos homens até a glória de Deus, que é o caminho das Bem-aventuranças. “Bem-Aventurada aquela que acreditou no cumprimento das palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor!”... Bem-Aventurada não apenas porque ela é a Mãe de Deus, mas porque ela viveu todas as bem-aventuranças do Sermão da montanha: ela é terna e humilde de coração, ela é pobre em espírito, ela tem o coração puro, ela é misericordiosa, ela chora com aqueles que choram, ela tem fome e sede de justiça. Nós que procuramos sempre lutar contra a violência em nosso coração, em nossas famílias, em nossos casais, no mundo e na própria Igreja, nós a invocamos como Nossa Senhora da compaixão, Nossa Senhora da esperança, Nossa Senhora da paz, Nossa Senhora causa de nossa alegria, causa nostrae laetitiae.

(Claude Geffré, 1916-2017, França)

 

CONTEMPLAR

Os Olhos Alegres, 2018, Assam, norte da Índia, Saurabh Sirohiya (1985-), Kolkata, Índia.




Nenhum comentário:

Postar um comentário