Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
Assunção de Nossa Senhora 15.08.2021
Ap 11, 19;12,
1.3-6.10 1 Cor 15, 20-27 Lc 1, 39-56
ESCUTAR
Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas (Ap 12, 1).
O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Cor 15, 26).
Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes (Lc 1, 51-52).
MEDITAR
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minha’alma
alcança quando, transportada,
Sente,
alongando os olhos deste mundo,
Os
fins do Ser, a Graça entressonhada.
Amo-te
em cada dia, hora e segundo:
À
luz do sol, na noite sossegada
E
é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto
o pudor dos que não pedem nada.
Amo-te
com o doer das velhas penas;
Com
sorrisos, com lágrimas de prece,
E
a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te
até nas coisas mais pequenas.
Por
toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda
mais te amarei depois da morte.
(Elizabeth Barrett Browning, 1806-1861, Reino Unido)
ORAR
Maria nos remete primeiro ao
mistério do Cristo. Essa palavra estranha e abstrata – assunção (os
Orientais preferem dormição) – quer dizer simplesmente que Maria, a
segunda Eva, venceu definitivamente a morte. Ela participa desde já, em sua
alma e corpo, da glória do Cristo ressuscitado. Ela é a primeira resgatada e a
primeira ressuscitada. É um privilégio inaudito. É por isso que se pode dizer
que ela é a mãe de todos os homens e mulheres que nasceram para a vida no
Cristo, como Eva é a mãe de toda a humanidade. Mas, ao mesmo tempo, esta pequena
filha de Israel é totalmente nossa irmã em humanidade. É por isso que ela é por
excelência o triunfo da graça, isto é do dom gratuito de Deus que precede toda
obra, todo esforço e todo o mérito do homem. A única coisa que lhe é pedida é
consentir com a Palavra de Deus. Isabel pode saudá-la como “bendita entre todas
as mulheres”, porque ela acreditou na palavra do anjo. Ela é cheia de graças,
em todos os sentidos da palavra graça, e, ao mesmo tempo, a plenitude da
gratuidade – como dom de Deus e como dom do homem – e a plenitude inteiramente
feminina do encanto e da beleza... Maria, na glória de sua Assunção, é um sinal
de esperança para todos os pobres, oprimidos, pequenos, humildes de coração,
para todas as mulheres em particular que são sempre exploradas de uma maneira
ou de outra pelo egoísmo dos homens. É bom que a liturgia da Assunção nos faça
ouvir o cântico do Magnificat. Esse canto de ação de graças nos revela a
imagem de um Deus que faz justiça a todos os vencidos da história. É um grito
de triunfo que celebra, contra todas as fatalidades da história, uma
reviravolta extraordinária: Maria, a desconhecida jovem filha de Israel,
torna-se a Rainha do Céu, a Mulher resplandecente que tem o sol por manto e a
lua sob seus pés. E Maria é a promessa de uma reviravolta, de uma
inversão de papéis que se aplica a toda história dos homens: “O Poderoso fez em
mim maravilhas...ele derrubou os poderosos de seus tronos, elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos, despediu os ricos de mãos vazias”. Alguns hoje amam
ver no Magnificat um verdadeiro canto revolucionário. Eles têm razão.
Mas trata-se do poder revolucionário do Evangelho, isto é, da vida segundo as
Bem-aventuranças. No 15 de agosto, voltamos nossos olhares para o céu e
procuramos entrever Maria na glória inacessível de sua Assunção. Mas Maria mora
conosco; ela nos mostra o caminho que vai da terra dos homens até a glória de
Deus, que é o caminho das Bem-aventuranças. “Bem-Aventurada aquela que
acreditou no cumprimento das palavras que lhe foram ditas da parte do
Senhor!”... Bem-Aventurada não apenas porque ela é a Mãe de Deus, mas porque
ela viveu todas as bem-aventuranças do Sermão da montanha: ela é terna e
humilde de coração, ela é pobre em espírito, ela tem o coração puro, ela é
misericordiosa, ela chora com aqueles que choram, ela tem fome e sede de
justiça. Nós que procuramos sempre lutar contra a violência em nosso coração,
em nossas famílias, em nossos casais, no mundo e na própria Igreja, nós a
invocamos como Nossa Senhora da compaixão, Nossa Senhora da esperança, Nossa
Senhora da paz, Nossa Senhora causa de nossa alegria, causa nostrae
laetitiae.
(Claude Geffré, 1916-2017, França)
CONTEMPLAR
Os Olhos Alegres, 2018, Assam, norte da Índia, Saurabh Sirohiya (1985-), Kolkata, Índia.
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