Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
VI Domingo do Tempo Comum 14.02.2021
2 Rs 5, 9-14 1 Cor 10, 31-11, 1 Mc 1, 40-45
ESCUTAR
“Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo” (2 Rs 5, 10).
Irmãos, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (1 Cor 10, 31).
Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” (Mc 1, 41).
MEDITAR
A muitos só lhes resta o inferno.
?Que
lhes coube na monstruosa partilha da vida
Senão
uma angústia sem nobreza, e a peste da alma.
Nunca
ouviram a música nascer do farfalhar das árvores,
Nem
assistiram à contínua anunciação
E
ao contínuo parto das belas formas.
Nunca
puderam ver a noite chegar sem elementos de terror,
Caminham
conduzindo o castigo e a sombra de seus atos,
Comeram
o pó e beberam o próprio suor,
Não
se banharam no regato livre.
Entretanto,
a transfiguração precede a morte.
Cada
um deve assumi-la em carne e espírito
Para
que a alegria seja completa e definitiva.
É
necessário conhecer seu próprio abismo
E
polir sempre o candelabro que o esclarece.
(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)
ORAR
O Espírito que reina n’Ele tem o poder de curar. De curar
desde as raízes; porque é capaz de criar, de apreender o mais fundo princípio
de vida e transformá-lo. O poder de curar é tão inesgotável em Jesus que Ele
leva a melhor da miséria humana que se comprime à sua volta. Não recua. As
feridas, os membros torcidos, as deformações, nenhuns sofrimentos O assustam.
Defronta-os. Não distingue o que é mais urgente ou o que correspondesse à força
que está em Si, e, simplesmente, aceita toda a gente. A palavra “Vinde a Mim” –
vide Mateus, II, 28 – é por Ele realizada antes mesmo de a pronunciar. E
que deixa Ele aproximar-se de Si! Não é o sofrimento humano um mar? Não é
socorrer um trabalho sem fim? Quem, decidindo-se a aliviar os homens,
havendo-se posto à disposição deles, não foi submergido – e feliz ainda quando
se não perde a si próprio – por esta tarefa infinita? Jesus sente o sofrimento
dos homens. A compaixão agita-Lhe o coração. Permite à miséria aproximar-se de
Si, mas é mais forte do que ela. Não conhecemos alguma palavra do Senhor que
pareça “idealista”, que deixe entender que poderia suprimir a dor. Não a
sobrevoa, comovido ou entusiasta, encara-a na sua inteira e horrível realidade.
Mas jamais perde a coragem, jamais Se cansa ou aparece decepcionado. O seu
coração, o mais sábio e o mais sensível de todos que alguma vez bateram, é mais
forte do que todo o sofrimento humano... Estaremos mais perto da verdade se
dissermos: Cristo não procurou evitar o sofrimento, como sempre faz o homem.
Não o desprezou. Não Se protegeu contra ele. Acolheu-o no seu coração. Tomou os
homens que sofrem como eles são, com toda a sua realidade. Fez seus os
incômodos, os pecados e as necessidades do homem. Há nisso uma infinita
grandeza. Um amor de uma santa seriedade; sem qualquer ilusão e por isso mesmo
infinitamente poderoso, porque é “um ato da verdade na caridade”, que apreende
a realidade e a eleva acima de si mesma. A atividade de cura de Jesus é um ato
de Deus: uma revelação de Deus e um caminho para Deus.
(Romano Guardini, 1885-1968, Alemanha)
CONTEMPLAR
S. Título, 2015, Fernando Zamorra, Folha Press, São Paulo, Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário