Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
II Domingo da Páscoa 28.04.2019
At 5, 12-16 Ap 1, 9-13.17-19 Jo
20, 19-31
ESCUTAR
Chegavam a transportar para as praças
os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a
sua sombra tocasse alguns deles (At 5, 15).
“Não tenhas medo. Eu sou o primeiro e
o último, aquele que vive” (Ap 17-18).
“Acreditaste porque me viste?
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
MEDITAR
A vida cristã não é sobre acreditar
em credos e ser obediente a regras divinas; é sobre viver, amar e ser. A
Ressurreição vem quando somos livres para dar nossas vidas a fora, livres para
amar além das fronteiras de nossos medos, livres não apenas para sermos nós
mesmos, mas para conferir poder a todos os outros de serem plenamente eles mesmos
nessa nossa rica, diferenciada e multifacetada humanidade. Aqui o preconceito
morre. Aqui a totalidade é provada. Aqui a ressurreição torna-se real.
(John Shelby Spong, 1931-, Estados
Unidos)
ORAR
A
grande e alegre mensagem da Páscoa é o homem
novo, o homem que a Ressurreição de Cristo liberta das cadeias da
insuficiência egoísta e da vã procura de sua realização. A Ressurreição o
conduz, em plena liberdade, à consciência do pecado e da sua própria
insuficiência, a fim de levá-lo pelo poder da Redenção a fazer quebrar-se o
núcleo endurecido da sua própria individualidade, para que a energia procedente
da sua verdadeira personalidade jorre na graça concedida. O que a Ressurreição
oferece coincide com o apelo angustiado do homem contemporâneo, com a necessidade
da hora presente: um rejuvenescimento
radical e incorruptível, rejuvenescimento que não é fechado sobre si
mesmo, mas com o seu centro no Corpo vivo do Cristo que renova eternamente toda
coisa; um rejuvenescimento que assegura tanto a unidade interior da pessoa,
como a unidade orgânica da comunhão de todos os que se tornaram perfeitos e
livres em Cristo. Contudo, todo um mundo vive ainda na noite da Sexta-Feira
Santa, à véspera da Ressurreição, portas fechadas pelo medo, face sombria,
cheia de dúvida e contradições, sem suspeitar que o Cristo ressuscitou e é
nosso companheiro de viagem, pronto a revelar-se na fração do pão. Certamente,
o mal se encontra ainda na história e no tempo que a regula. Esta coexistência
da Ressurreição e do mal na história constitui o mistério da coexistência da
liberdade e do destino. Ela é paradoxal, o paradoxo querido por Deus, da
injustiça sofrida pelo justo para que a justiça se faça na terra. Mais do que
nunca, o mundo de hoje tem necessidade da Páscoa, duma passagem da servidão à
liberdade, da injustiça à salvação, da guerra à paz, das discriminações à
unidade, da tristeza à alegria do céu. O Cristo ressuscitou. Proclamemo-lo.
(Damaskinos Papandreou, 1891-1949,
Grécia)
CONTEMPLAR
Velas de Páscoa,
2018, Ilha de Poros, Grécia, Chris Panagiotidis, Atenas, Grécia.