Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
XXII Domingo do Tempo Comum 03.09.2017
Jr 20, 7-9 Rm 12, 1-2 Mt
16, 21-17
ESCUTAR
Seduziste-me,
Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder (Jr 20, 7).
Não
vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de
pensar e de julgar (Rm 12, 2).
“Vai
para longe de mim, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não
pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16, 23).
MEDITAR
Não
fiques imóvel
à beira do caminho,
não congeles a vida,
não ames com fastio,
não te salves agora
não te salves nunca
Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um cantinho feliz
não deixes cair pesadas
pálpebras como juízos definitivos,
não fiques sem lábios,
não durmas sem sonhos,
não te penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.
Mas se
apesar de tudo,
não podes evitar;
e congelas a vida,
e amas com fastio,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um cantinho feliz,
e deixas cair pesadas pálpebras como juízos definitivos,
e te secas sem lábios,
e dormes sem sonhos,
e te pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas imóvel
à beira do caminho,
e te salvas;
à beira do caminho,
não congeles a vida,
não ames com fastio,
não te salves agora
não te salves nunca
Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um cantinho feliz
não deixes cair pesadas
pálpebras como juízos definitivos,
não fiques sem lábios,
não durmas sem sonhos,
não te penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.
Mas se
apesar de tudo,
não podes evitar;
e congelas a vida,
e amas com fastio,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um cantinho feliz,
e deixas cair pesadas pálpebras como juízos definitivos,
e te secas sem lábios,
e dormes sem sonhos,
e te pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas imóvel
à beira do caminho,
e te salvas;
então
não fiques comigo.
não fiques comigo.
(Mário
Benedetti, Não te Salves)
ORAR
O profeta
recusa as ilusões, as receitas fáceis e os discursos anestésicos e se propõe a
não profetizar mais em nome de Deus. Jeremias acusa o Senhor de tê-lo seduzido,
de ter se aproveitado dele; de conseguir o que queria e depois tê-lo
abandonado. O profeta não poderia prever esta consequência dramática, pois na
sua lua de mel com o Senhor cantava: “Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava. Tua palavra era meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
Aquele que é chamado a profetizar deve ter a lucidez de que entrará em
confronto com a surdez alheia que poderá levá-lo até a morte. É o excesso de
fidelidade aos desígnios de Deus que nos levará a esta situação extrema porque
a Palavra é um fogo ardente nas entranhas e encerrado nos ossos. Jesus
apresenta o seu programa de seguimento: negar-se a si mesmo, carregar a cruz e
perder a vida. Pedro reage, O repreende e defende a farinha do seu próprio
saco: tranquilidade, triunfalismo, ambição pessoal e sedução ao poder. De
venturoso, é rebaixado a Satanás. O Cristo exige do discípulo que não pense em
si mesmo, pois o maior perigo no Seu seguimento é falar Dele, mas continuar a
pensar em nós. Os desígnios de Deus nunca são confortáveis. São como laços que
ficam cada vez mais apertados e dolorosos. O caminho do profeta está prescrito:
é o caminho do homem que Deus não permitirá nunca que fuja e se livre Dele. O
teólogo Dietrich Bonhöeffer escrevia: “Jeremias era de carne e osso como nós,
um ser humano como nós. Ele sentiu a dor de ser constantemente humilhado e
ridicularizado, a dor da violência e da brutalidade que os outros usaram contra
ele”. O chamado de Deus ao profeta implica a doação de uma vida inteira. Uma
vida que vai conhecer a obscuridade, o abandono, o silêncio, o sofrimento e até
a torpe morte na Cruz. Comoção e indignação são os binômios da vida profética.
Numa situação-limite, comover-se não é suficiente se esta comoção não se
converte em indignação e ira. Devemos estar em sintonia com os que mais sofrem
vitimados pela sociedade e pela religião. O cristão é um ser indignado frente à
injustiça e à mentira, caso contrário, é indigno de querer ostentar este nome.
Por outro lado, a indignação sem a comoção pode se manifestar de forma vazia,
cruel e impiedosa. Quando Deus chama um homem para ser profeta, ordena-lhe que
vá e morra! (Bonhöeffer).
CONTEMPLAR
Skid Row III, 2011,
Lee Jeffries (1971-), foto da série Homeless,
Manchester, Reino Unido.