segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Caminho da Beleza 10 - IV Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

IV Domingo do Tempo Comum                   29.01.2017        
Sf 2, 3; 3, 12-13                 1 Cor 1, 26-31                     Mt 5, 1-12


ESCUTAR

Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade (Sf 2, 3).

Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios (1 Cor 1, 27-29).

“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 1-12).


MEDITAR

Minha fé é que o Cristo ressuscita hoje em todo homem que sofre, em toda a situação de opressão e que é vivendo o amor com que o Cristo amou que podemos transformar nosso mundo. Dar minha vida, deixá-la ser tomada, isto tem sido e é, dia após dia, por meio das tentativas da oração e da ação, reconhecer que o Cristo é o centro de minha vida e eu não posso mais viver fora de seu amor. (Roger Schutz)


ORAR

Não podemos continuar considerando as bem-aventuranças como um ideal da vida cristã, pois ideal está mais próximo da filosofia grega do que das Escrituras que nos garantem: “Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Cor 15, 3). Temos que ler nas histórias concretas que nos precederam para melhor procurá-Lo e encontrá-Lo nas nossas vidas. Muito mais do que um ideal, as bem-aventuranças nos indicam a maneira de agir, em qualquer circunstância para agradar a Deus e não confundi-Lo com falsos ídolos (Sl 118, 105). Devemos nos esforçar para amar, para exercer a misericórdia e para ver o outro, seja quem for, como um irmão. Jesus nos deu este exemplo e, com certeza, como Ele, conheceremos a calúnia, o desprezo, a perseguição e a ardente sede de justiça. Seremos tratados como loucos, mas seremos chamados, pelo Cristo, de felizes e bem-aventurados, as palavras-chave das Beatitudes que são palavras inesgotáveis de ternura e de vida. Em todos os lugares e tempos, desde que o Evangelho foi anunciado, os que encontram apreço e valor aos olhos e coração de Deus são a pobreza, o sofrimento e a fraqueza. O cristão, pela encarnação do Cristo, é um cidadão do mundo e deve se inclinar para descobrir, no tempo em que vive, onde estão os pobres, os que sofrem e os que são fracos para, com eles, indignar-se e clamar pela justiça prometida por Deus. O cristão será confrontado, como o Cristo, com o Palácio e o Templo, responsáveis pela violência destruidora, seja do poder, do preconceito ou da discriminação. Para se construir a Paz fundada na justiça – desígnio de Deus – será necessária uma revolução de valores em que a solidariedade com a vida seja o alimento da esperança de um novo mundo e de uma nova humanidade. As bem-aventuranças exigem um compromisso com a paz. Não só em palavras, mas em atos que nada mais são do que palavras encarnadas. Cristãos são os que rompem o conforto medíocre das suas igrejas e lares para entregar a própria vida, uma vida que não lhes pertence porque lhes foi dada por Deus para que honrem a vida, a morte e a ressurreição do seu Filho. Somos chamados a perpetuar em nós a esperança nesta marcha dos bem-aventurados que sonham o sonho impossível de dar uma chance a Paz. Eles sabem que a única coisa que precisam é do Amor que conseguem por semear entre lágrimas os futuros cantos de alegria e de ternura.


CONTEMPLAR 

No mesmo barco, 2015, refugiados a bordo de um barco de pesca superlotado no mar mediterrâneo, Francisco Zizola (1962-), Roma, Itália.





segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O Caminho da Beleza 09 - III Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)


III Domingo Tempo Comum             22.01.2017
Is 8, 23b-9, 3                     1 Cor 1, 10-13.17               Mt 4, 12-23


ESCUTAR

O povo que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu (Is 8, 23b).

Sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar (1 Cor 1, 10).

“O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz. Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’. Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo” (Mt 4, 16-17.23).


MEDITAR

Um vinho bebemos
em memória do amado,
antes que a vinha existisse
e embriagados ficamos.

A taça que o contém
é o disco brilhante da lua,
e o vinho é o sol...

Se da taça
escorre uma gota
e cai sobre a palma da mão
de quem a segura,
este nunca mais se perderá
ao caminhar nas trevas,
pois em sua mão resplandece
uma estrela.
(Omar, filho de Al-Farid, 1181-1234, Islã)


ORAR

A missão de Jesus não se inicia no deserto como a de João, o Batista; nem em Jerusalém, a capital religiosa e o centro do poder político e econômico. A missão de Jesus se inicia na Galileia onde residiam numerosos pagãos. A fase decisiva da história da salvação se inicia numa região que os judeus desprezavam e consideravam sombria. Sobre este país, uma luz se ergue e brilha para que seja comunicada a todos os homens e mulheres de todos os tempos e lugares do mundo. O Verbo não se esconde de ninguém e o paradoxo cristão se revela na desproporção infinita que existe entre o que somos e a missão que nos é confiada: uma missão cumulada com a misericórdia e o amor do Cristo. Na medida em que nos abandonamos à força de Deus somos cumulados de bênçãos para que cumpramos o seu desígnio e este desígnio é o próprio Deus presente no mundo. A sabedoria do Cristo é o abandono a Deus, pois quem nos envia nunca nos deixará sozinhos, uma vez que o seu Espírito habita em nossos corações. A nossa vida não é somente nossa, mas é a própria vida do Cristo presente hoje, como outrora, na sua condição terrena de humildade e pobreza. Paulo exclamava: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Jesus nos testemunha que a humildade de sua vida não O impediu de realizar a salvação do mundo. Ao contrário, foi precisamente na sua fraqueza que pôde realizar a obra que lhe foi confiada, pois “a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Cor 1, 25). Não devemos nos escandalizar: o Cristo está presente na nossa humildade e pobreza e são estas que se tornam os instrumentos escolhidos por Deus para continuar a missão de Jesus. Os verbos ver, chamar e seguir fazem parte da dinâmica do chamado de Jesus para que caminhemos com Ele segundo a originalidade de nossos talentos. Ninguém está privado do seu olhar e nem afastado do seu apelo. A liberdade do cristão é construída, cotidianamente, numa dinâmica permanente e conflitante do “abandono de... para alguma coisa”, que desemboca na plenitude do Amor e no amor que “tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13, 7). Um amor que jamais acabará. A Igreja de Jesus deve estar em casa quando fica indignada com a pobreza das massas e se alimentar da hospitalidade de uma esperança que nunca discrimina, pois qualquer discriminação, por menor que seja, é escuridão e sombra da morte. Devemos nos converter em “povo que andava na escuridão e viu uma grande luz” para que nos transformemos, de uma vez por todas, nestes inumeráveis grãos de trigo que, reunidos, fermentados e sovados, tornam-se um só pão que será, por todos os séculos, o Pão da Vida. 


CONTEMPLAR

S. Título, s.d.,  Margaret Durow (1989-), da série “Peso e Espera”, Wisconsin, Estados Unidos.




segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O Caminho da Beleza 08 - II Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?

(Ml 2, 10)

II Domingo do Tempo Comum                     15.01.2017 
Is 49, 3.5-6             1 Cor 1, 1-3              Jo 1, 29-34


ESCUTAR

“Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra” (Is 49, 6).

Para vós graça e paz da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (1 Cor 1, 2).

“Eu vi o Espírito descer, como uma pomba, do céu e permanecer sobre ele” (Jo 1, 32).


MEDITAR

Uma vez um ermitão perguntou ao demônio: “Quando tentas a um ermitão, o que fazes em primeiro lugar?”. O demônio lhe respondeu: “Deixo que organize a sua vida”. Vivemos na ilusão, se pensamos que organizando perfeitamente nossa vida mediante a cuidadosa observância de uma ordem do dia, hora de levantar-se, de rezar, etc., estamos servindo a Deus. Este não pode ser um critério autêntico de vida espiritual. Na paz superficial e na segurança, não há lugar para a confiança (Shigeto Oshida, mestre Zen).


ORAR

As leituras de hoje nos falam do acesso ao desconhecido. O Cristo anunciado pelo profeta transcende a dimensão de servo: “Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra”. A palavra de Deus diz sempre mais do que quem a diz. Temos que passar do conhecido de ontem ao desconhecido de hoje. Não podemos nos reduzir às homenagens aos profetas do passado, mas tornar atuais as suas profecias ao ler os sinais dos tempos. Aceitar a palavra de Deus significa romper a crosta dos nossos hábitos e costumes e ir mais além do nosso horizonte doméstico. Somos fiéis à Palavra de Deus na medida em que valorizamos o seu alcance profético e não a prendemos com grilhões e nem a mumificamos com o bálsamo das nossas experiências passadas. Devemos nos deixar provocar pelo que ainda não conhecemos e irmos até o limite do que nunca terminaremos de explorar. O batismo de Jesus, por uma figura marginal em um lugar marginal, cumpre toda a justiça ao revelar que o Senhor escolhera Jesus, o Filho Amado, para realizar um reino justo e libertador, diante da oposição dos que estão apenas preocupados em manter tudo como está. O evangelista proclama: “Eu não o conhecia” e nos faz conhecê-Lo como Desconhecido. O Cristo permanece desconhecido, pois revestido do Espírito de Liberdade, não se deixa aprisionar pela miopia das igrejas e nem se reduzir a conceitos que servem mais para dividir o Povo de Deus do que uni-lo num só corpo e num só Espírito. A comunidade eclesial deve alimentar o gosto pelo desconhecido e por tudo que ainda devemos e poderemos descobrir. É necessário nos converter do Jesus conhecido das nossas devoções, das práticas costumeiras e consumido pelas nossas estruturas, para um Cristo Desconhecido que somente se encontra quando rompemos a prisão confortável das nossas certezas e falsas seguranças, das nossas idolatrias fossilizadas que nos trazem a tranquilidade enganosa dos pântanos e nos sepultam na paz dissimulada dos cemitérios. Meditemos as palavras de Bento XVI: “Se, em definitivo, o meu bem estar, e a minha incolumidade é mais importante do que a verdade e a justiça, então vigora o domínio do mais forte; então reinam a violência e a mentira. Sofrer com o outro, pelos outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente: estes são elementos fundamentais de humanidade e o seu abandono destruiria o mesmo homem” (Spe Salvi, 39).


CONTEMPLAR

Chuva, 2013, Vlad Chorniy, Kiev, Ucrânia.





segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O Caminho da Beleza 07 - Epifania do Senhor

Epifania do Senhor                   08.01.2017
Is 60, 1-6                 Ef 3, 2-3a.5-6                    Mt 2, 1-12

ESCUTAR

 Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor (Is 60, 1).

Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do evangelho (Ef 3, 6).

O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém (Mt 2, 3).


MEDITAR

Faça seu caminho. Isso poderá lançá-lo ao exílio e sua sociedade nativa poderá tornar-se estranha, e você poderá ter muito pouco a ver com as pessoas de lá e não ter com quem comunicar-se. Mas não se esqueça de que você sempre terá a D’us para fazê-lo encontrar outros em exílio com quem terá muito para conversar (Rabino Polsky).


ORAR

Hoje é a festa da luz porque a manifestação do Senhor, a sua epifania, é inseparável da luz. Quando o Senhor se manifesta, existem os que ao responder se colocam em caminho e buscam. Há outros, porém, que se escondem e dissimulam as suas vidas e os seus encontros. Os magos foram tomados de uma imensa alegria enquanto Herodes ficou perturbado assim como a Jerusalém do poder e do saber. Os sumos sacerdotes e os escribas foram convocados para uma reunião de emergência e nela manifestam a sua inquietude e desconfiança. É significativo que a aparição da “bondade de Deus, nosso Salvador, e seu amor pelos homens” (Tt 3, 4) suscite perturbação nos que detêm o poder civil e religioso. A presença de Deus que se manifesta na fraqueza surge como um perigo e uma ameaça para a ordem estabelecida e para as posições consolidadas. O Cristo constitui uma ameaça para o nosso reino privado ao colocar em xeque nossos equilíbrios cansados e nossas falsas seguranças. O Papa Francisco afirma: “Preferem uma vida enjaulada em seus preceitos, em seus compromissos, em seus planos revolucionários ou em sua espiritualidade desencarnada” (Homilia 20.12.2013). O cristão lúcido sabe que é melhor a perturbação do que a indiferença; é melhor a hostilidade do que a neutralidade; é melhor a recusa do que a ambiguidade. O cristão sabe que é necessário um coração para assombrar-se e alargar-se. O profeta desvela a expansão da luz e a sua alegria contagiosa. O evangelista, por sua vez, dá a conhecer o medo dos sábios cuja busca finda em suas bibliotecas palacianas, no meio dos pergaminhos cobertos de pó nos quais procuram sentenças definitivas. O caminho, com as suas imprevisibilidades e surpresas, não é o seu assunto. O coração dos magos é o coração dos que buscam, apaixonadamente, abrigar o mistério. O coração dos detentores do poder é árido, mesquinho e intolerante. Os magos nos revelam que entre o relâmpago do surgimento da estrela e o seu acompanhamento até o último trecho do caminho seremos assomados por dúvidas, cansaços, perdas e desilusões, mas, sobretudo, por esperanças. A estrela surge como uma chispa de fogo, acende o desejo e só volta a brilhar intensa e permanentemente no final quando o encontro se realiza. A busca não é nunca uma marcha triunfal: implica numerosas partidas e recomeços e dela não devemos esperar manifestações espetaculares. O que conta é a perseverança: a capacidade de não desertar, de não ceder ao desalento, de não se desviar para cômodos refúgios e nem se contentar com conquistas provisórias; a obstinação para caminhar quando tudo parece inútil, absurdo e impossível. E o que mais conta ainda é o discernimento de que para adorar a Deus é preciso nos deter diante do mistério do mundo e saber olhá-lo com amor. Quem olha a vida amorosamente começará a vislumbrar as vibrações de Deus antes mesmo de ser envolvido por elas.


CONTEMPLAR

Sinal, 2013, imigrantes africanos na praia da cidade de Djibouti, 2013, John Stanmeyer (1964-), Illinois, Estados Unidos.