segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Caminho da Beleza 24 - VI Domingo da Páscoa

VI Domingo de Páscoa             01.05.2016
At 15, 1-2.22-19                 Ap 21, 10-14.22-23                     Jo 14, 23-29       
                           

ESCUTAR

“Ficamos sabendo que alguns dos nossos causaram perturbações com palavras que transtornaram vosso espírito” (At 15, 24).

“A cidade não precisa de sol nem de lua que a iluminem, pois a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro” (Ap 21, 23).

“Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14, 27).


MEDITAR

Seguir o Senhor, deixar seu Espírito transformar nossas zonas de sombra, nossos comportamentos que não vêm de Deus e lavar nossos pecados, este é um caminho que encontra numerosos obstáculos fora de nós, no mundo, e também dentro de nós, no coração. Não se acovardem! Nós temos a força do Espírito Santo para vencer essas provas (Francisco, Homilia, Roma, 23 de abril 2013).


ORAR

A desgraça dos puristas de todos os tempos é a pretensão de impor cargas opressoras e inúteis. De acrescentar ao jugo libertador do Cristo, um jugo suplementar e opressor feito de bagatelas sufocantes, pois alguns indivíduos sentem um gosto sádico ao exigir sacrifícios absurdos e são refratários às ações inovadoras do Espírito. O livro do Apocalipse nos revela que Deus, por meio do Cordeiro, não reside em edificações, pois Ele é o próprio templo numa Igreja transfigurada. O novo santuário é o corpo ressuscitado de Jesus, o Cristo. Este mesmo Cristo será, ao mesmo tempo, ponto de conjunção da humanidade com Deus e ponto de união da humanidade inteira. A Igreja quando pretende exibir a própria luz e a própria glória, termina, inevitavelmente, obscurecendo a Fonte da luz e vende como esplendor celeste as luzes do êxito e do prestígio humano. A Igreja de Jesus Cristo há de ser fiel à sua dinamicidade que a impede de ser nostálgica; à sua fidelidade que a impede de desviar-se da sua razão de ser e à sua profecia que a faz compreender os sinais dos tempos. A Igreja deve cultivar a tolerância e o diálogo que a livram das enfermidades do poder e a esperança que a faz superar dúvidas e incertezas. A Cidade de Deus não é uma cristandade sociologicamente organizada, mas uma dinâmica do Espírito que age e transforma o mundo por meio de nós. Antes de ser uma estrutura, a Igreja é uma comunidade, fruto do acolhimento do Espírito no coração dos fiéis, pois “somente a recepção acolhedora da Palavra, no Espírito, é formadora da comunidade cristã” (Francisco Catão). Na Igreja, deve prevalecer a fé no Espírito, guia da Igreja, que deve desaparecer para brilhar a luz do Cristo. A fé e o compromisso com Jesus Cristo são um produto da ação do Espírito sobre nós, pois é este mesmo Espírito que nos ensina a reconhecer sua ação no mundo atual, na sociedade conflitiva em que vivemos e na realidade que nos rodeia.


CONTEMPLAR

Sem Título, Newcastle, 1999, Peter Marlow (1952-2016), Londres, Reino Unido.






segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Caminho da Beleza 23 - V Domingo da Páscoa

V Domingo da Páscoa              24.04.2016
At 14, 21-27            Ap 21, 1-5                Jo 13, 31-35


ESCUTAR

Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles e como havia aberto a porta da fé para os pagãos (At 14, 27).

“Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5).

“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” (Jo 13, 34).


MEDITAR 

Deus saiu de si mesmo para vir ao meio de nós, montou a Sua tenda entre nós, para nos trazer a Sua misericórdia que salva e dá esperança... Recordai bem: sairmos de nós, como Jesus, como Deus saiu de si mesmo em Jesus, e Jesus saiu de si próprio por todos nós (Francisco, A Igreja da Misericórdia, 2014).


ORAR

A novidade trazida por Jesus sempre encontra resistências. Não é uma novidade momentânea que se sustenta por um entusiasmo epidérmico e passageiro, pois é preciso preservar a fé. A renovação de todas as coisas é a realização da profecia: “Sim, serão esquecidas as angústias de outrora e até da minha vista desaparecerão. Vede: eu vou criar um céu novo e uma terra nova; do passado não haja lembrança, nem venha ao pensamento, antes, exultai e alegrai-vos sempre pelo que vou criar” (Is 65, 17-18). Nesta nova Jerusalém, o primeiro gesto de Deus-Esposo é enxugar as lágrimas do rosto da esposa, pois com o desaparecimento da morte, as lágrimas não tem nenhuma justificativa. O rosto liberado do véu de lágrimas já pode contemplar este Deus que “não criou a morte” (Sb 1, 13), mas criou tudo para a vida. A novidade deste mundo é que a morte não é a última palavra. A nova aliança selada pelo Cristo com sua morte e ressurreição contempla uma única clausula e um só compromisso decisivo: o amor. Neste novo mandamento, Jesus não pede nada para si e nem para Deus, somente para o homem. É um dinamismo expansivo de amor universal: “Nisto todos conhecereis que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. A utopia é possível: Deus é Pai e os homens podem ser irmãos. Se numa comunidade faltar este sinal de amor e ele for substituído por observâncias, códigos e hábitos, ela perdeu sua própria identidade e nada tem a ver com a novidade do Cristo. O mandamento novo está disponível e ao alcance dos corações para quem quiser construir um novo céu e uma nova terra.


CONTEMPLAR

A Ajuda do Padre, 1962, Puerto Cabello, Venezuela, Héctor Rondón Lovera (1933-), Venezuela.










segunda-feira, 11 de abril de 2016

O Caminho da Beleza 22 - IV Domingo da Páscoa

IV Domingo da Páscoa             17.04.2016
At 13, 14.43-52                  Ap 7, 9.14-17                      Jo 10, 27-30


ESCUTAR

“'Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra'” (At 13, 47).

Porque o Cordeiro que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos (Ap 7, 17).

“As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 27-30).


MEDITAR

Embora seja verdade que é preciso ter cuidado com a integralidade da doutrina moral da Igreja, todavia sempre se deve pôr um cuidado especial em evidenciar e encorajar os valores mais altos e centrais do Evangelho, particularmente o primado da caridade como resposta à iniciativa gratuita do amor de Deus. Às vezes custa-nos muito dar lugar, na pastoral, ao amor incondicional de Deus (Francisco, Amoris Laetitia, 311).


ORAR

O Pastor conhece as suas ovelhas, não genericamente, mas pessoalmente, uma a uma. Cada um de nós, aos seus olhos, é um absoluto e não uma minúscula parte de um todo. “Escutar a voz” é uma ligação de pertença recíproca numa atmosfera de liberdade e reciprocidade. O Pastor não percorre um caminho paralelo ou justaposto, nem visita o seu rebanho de vez em quando, mas participa intimamente de sua vida. Ele compartilha a vida de todos. Jesus não se limita a proclamar a palavra do Pai, mas revela o Pai na sua própria pessoa e no seu modo de agir. Toda a prática do Cristo se faz revelação de Deus. Aprisionar o dinamismo vigoroso da Palavra em nossas igrejas exclusivistas faz com que ela abandone o nosso território. O evangelho, quando aprisionado, caminha em outra direção e deixa em nossa porta um montinho de pó como testemunho de que se cansou de nossa mesquinhez. Deixa “os puros” na sua casa para se dirigir aos distantes com os quais armará a sua tenda.


CONTEMPLAR


Ovelhas na cidade de Blaennau Ffestiniog, País de Gales, 1986, Peter Marlow (1952-2016), Londres, Reino Unido.



segunda-feira, 4 de abril de 2016

O Caminho da Beleza 21 - III Domingo da Páscoa

III Domingo da Páscoa            10.04.2016
At 5, 27-32.40-41             Ap 5, 11-14              Jo 21, 1-9


ESCUTAR

“Os apóstolos saíram do conselho muito contentes por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus” (At 5, 41).

“O Cordeio imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor” (Ap 5, 12).

“Então Jesus disse: ‘Moços, tendes alguma coisa para comer?’” (Jo 21, 5).


MEDITAR
 
Jesus é chamado de Cordeiro: ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Pode-se pensar: mais como um cordeiro, tão frágil, um pequeno cordeiro frágil, como ele, pode tirar tantos pecados e tantas maldades? Pelo Amor. Por sua ternura. Jesus jamais cessou de ser um cordeiro: terno, bom, pleno de amor, próximo dos pequenos, próximo dos pobres” (Homilia, Castro Pretorio, 19 de janeiro de 2014).


ORAR

A paisagem familiar do lago de Tiberíades, a barca, os pescadores parecem repetir o cenário, três anos antes, da primeira chamada aos apóstolos. As ocupações mais ordinárias podem ser o veículo para a expansão da mensagem evangélica. O estar juntos dos discípulos nos aponta que a missão é sempre comunitária e não um gesto isolado e autônomo. A pergunta de Jesus pelos peixes pescados revela o trabalho estéril e os torna conscientes do fracasso. Ao lançarem as redes, a pedido de Jesus, lhes é revelado que a pesca abundante é fruto da generosidade divina. Pedro, ao responder sobre seu amor, toma consciência de que sua eleição deve conduzi-lo, sem concessões, a um maior amor, pois a qualidade do amor é proporcional à responsabilidade do serviço: “a quem mais se dá, mais se pede”. Pedro deve ser o ministro da paciência do Cristo e precisa de João, o discípulo amado, para ver com o coração que discerne a causa do Senhor, diferente da causa do mundo e do nosso egoísmo. Tantas vezes o amor maior e a doação plena não estão nos pastores, mas nos cristãos que no meio da vida enfrentam os desafios sem as comodidades alienantes face a dor do mundo. Nem a barca e nem a pesca são de Pedro, mas do Senhor que pode nos surpreender ao pedir que lancemos as redes “do outro lado”. Fora isso, basta-nos amar de um amor cada vez maior.


CONTEMPLAR

Partindo para Mattanza, 1991, tradicional pesca de atum em Trapani, Sicília, Itália, Sebastião Salgado (1944), do livro “Trabalhadores”, Brasil.