O Caminho da Beleza 37
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
XVIII Domingo do Tempo Comum 03.08.2014
Is 55, 1-3 Rm 8, 35.37-39 Mt 14, 13-21
ESCUTAR
“Ó vós todos que estais com
sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei,
vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga” (Is 55, 1).
“Quem nos separará do amor de
Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo
isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!”(Rm 8, 35.37).
“Todos comeram e ficaram
satisfeitos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda dozes cestos cheios”
(Mt 14, 20).
MEDITAR
“Essencialmente, o que
caracteriza a partilha é o dom, que pressupõe um ato livre. A partilha não é
calculada: há uma gratuidade total no gesto. Não só o autor do gesto o faz
livremente como também o beneficiário permanece livre, livre em relação ao benfeitor”
(Daniel Duigou).
“Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim,
é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem
por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos
demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de
conversar, do igual o igual, desarmado. O de que tira prazer de estar próximo.
Só isto; quase; e todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem
precisar de saber o por quê é que é” (Guimarães Rosa).
ORAR
O
Senhor assegura o que é essencial para a vida e oferece seus dons sob o signo
da gratuidade: “Vinde comprar sem dinheiro e tomar vinho e leite sem nenhuma paga”.
O Senhor é gratuito, mas não supérfluo. Somos nós que o consideramos supérfluo,
uma coisa a mais em nossa existência e que muito nos custa. Um Deus gratuito é
sempre embaraçoso e até insuportável. Preferimos regatear, negociar com
promessas, velas, tostões que comercializam as graças gratuitas do Pai. O
Senhor nos indaga sempre o que queremos receber e não o que podemos dar. O
único preço a pagar é o nosso desejo. Para Deus o dinheiro não interessa para
nada, pois é ele que não nos permite viver na esperança. Dois eram
os problemas mais angustiantes para os que viviam na Galileia: a fome e as
dívidas que faziam que perdessem as suas terras. Jesus sofria por isso e quando
ensinou seus discípulos a rezar incluiu o pedido do pão de cada dia e o perdão
das dívidas. Para Jesus, o mundo novo nasceria do partilhar, mesmo que fosse
pouco, e do perdão mútuo das dívidas. Jesus apela aos seus discípulos a serem
responsáveis e não demissionários. Jesus antes de multiplicar os pães quer
multiplicar os corações para que sintam a compaixão que Ele sente. A ternura do
Cristo é um estímulo para vencer a aridez das relações numa sociedade cada vez
mais mesquinha e egoísta. O cuidado com o outro e a delicadeza são
profundamente cristãos. Milagre é se deixar comprometer com a situação do
outro, comover-se com a dor alheia, sentir-se interpelado por suas necessidades
e ser sensível com sua situação desesperadora. Jesus não se limita a pregar,
pois para Ele a multidão não é um componente que mede a sua popularidade ou
triunfo. Jesus assume a sua responsabilidade diante de todos e nos ensina que
cada um de nós é responsável e encarregado da fome do outro: fome de pão, de
amor, de amizade, de escuta e de justiça. O cristão é alguém que tem a ver com
tudo o que afeta a todos. Para o cristão, nunca é chegada a hora de despedir,
de mandar embora o mais próximo de nós, pois é sempre a hora de acolher, de
prestar atenção e de se colocar à disposição. Terminada a pregação é chegado o
momento da acolhida com as mãos estendidas. O cristão nunca tem as mãos
fechadas porque sabe que ele jamais será alguém que despede. Para o cristão
nunca existirá a hora da separação e da divisão, pois nada deve ou pode
separá-lo do amor do próximo que é o próprio Cristo.
CONTEMPLAR
Pol-e
Khomri, Steve McCurry, 1992, foto, Afaganistão, Phaidon Press
Limited, 2001.