segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Caminho da Beleza 31 - Santíssima Trindade

O Caminho da Beleza 31
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).


Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).


Domingo da Santíssima Trindade           19.06.2011
Ex 34, 4-6.8-9             2 Cor 13, 11-13            Jo 3, 16-18

  
ESCUTAR

“Senhor, Deus compassivo e misericordioso, lento na ira e rico em clemência” (Ex 34, 6).

“Encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13, 11).

“Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).


MEDITAR

“A experiência do Espírito é uma experiência viva, é vida, pois dela alimentamos nossa vida em Deus e nela é que vivemos nossa vida em Deus, de adesão à Palavra e de docilidade ao Pai, no Espírito. Essa vida não é apenas nossa, mas participada por todos aqueles que dizem sim a Deus no fundo do coração. Tem, portanto, o que poderíamos denominar uma dimensão comunitária que lhe é inerente. Não há experiência no Espírito independente da comunidade. É esse, precisamente, o mistério da Igreja.” (Francisco Catão).

“Não é o clero, mas sim a comunidade, a Igreja concretamente reunida, que celebra a Ceia comemorativa na qual o Senhor se faz presente e incorpora os reunidos transformando-os em seu próprio corpo” (Urs von Balthasar).


ORAR

Na tradição oriental a comunidade eclesial é o ícone da Trindade. No entanto, no Ocidente tivemos e temos dificuldade de compreender o mistério trinitário que ficou hipotecado nas abstrações dos teólogos e confinado na atmosfera da metafísica ou ainda sepultado na espessa pátina de pó das bibliotecas. Por esta razão, entre outras, acabamos dando prioridade ao aspecto burocrático, administrativo-institucional da Igreja; na acentuação exasperada dos elementos jurídicos; no empenho para criar aparatos centralizadores que nos conduziram a uma hipertrofia das estruturas; e na diluição do amor fraterno e comunitário em obras sociais de caridade.

O Concílio Vaticano II assume uma expressão de Cipriano e declara que a Igreja é “o povo unido pela unidade mesma do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (LG 4) e declara ainda que “todos os homens, aliás, são chamados a esta união com Cristo, que é a luz do mundo, de quem procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos” (LG 3).

A Igreja, ao viver o dinamismo vital da Trindade, faz viver o povo de Deus na mais profunda comunicação e comunhão e torna-se, desta maneira, o lugar da visibilidade e da transparência. Não há vitalidade na Igreja sem uma comunidade, pois sem comunhão a comunidade se torna apenas uma casca vazia de substância, uma justaposição de pessoas que nunca serão capazes de criar vínculos profundos entre si. A comunidade eclesial avança e se expande quando a comunhão fraterna se converte em sinal do amor do Pai, revelado pelo Filho e infundado em nossos corações no Espírito.

A comunidade eclesial deve viver esta dança nupcial da Trindade que nos faz participar da explosão de vida que brota desta comunhão pessoal e trinitária na qual o Pai é o Amante que toma a iniciativa; o filho é o Amado, que recebendo o amor do Pai, se entrega totalmente aos seus desígnios; e o Espírito é o Vínculo fecundo do amor celebrado como banquete nupcial do Cordeiro. Um amor calcado na misericórdia e na compaixão do Senhor, cujo nome revelado e proclamado a Moisés é o de um “Deus misericordioso, compassivo, lento na ira e rico em clemência”.

Não podemos ser um contratestemunho deste amor trinitário a nós revelado e derramado em nossos corações. E o damos quando nos intimidamos diante da miséria construída do mundo; quando perdermos a capacidade de indignação diante das injustiças e nos submetemos à crueza de um cotidiano sem horizontes, cravado em nossas instituições de desamor, poder e opressão.

Como nos proclama Paulo: “Assim sereis íntegros e irreprováveis, filhos de Deus sem defeito, em meio a uma geração perversa e depravada diante da qual brilhais como estrelas no mundo, ostentando a mensagem da vida” (Fl 2, 15-16).

A Trindade é a base existencial da vida cristã como um locus amoris – o lugar de amor – onde a palavra e o pão se encontram no e para o banquete nupcial com a Humanidade redimida.

CONTEMPLAR

A Trindade, José de Ribera, c. 1635, óleo sobre tela, 226 x 181 cm, Museu do Prado, Madrid, Espanha.



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