segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Caminho da Beleza 30 - Pentecostes

O Caminho da Beleza 30
Leituras para a travessia da vida



A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).


Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



Domingo de Pentecostes                     12.06.2011
At 2, 1-11                 1 Cor 12, 3b.7.12-13                    Jo 20, 19-23


ESCUTAR

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2, 4).

“A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 7)

“A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,22-23).


MEDITAR

“Se ao invés de nos entregarmos a uma comédia imaginária de Pentecostes, obedecermos ao Cristo e ao Espírito, talvez as multidões gritem: ‘Aos leões os cristãos’; ‘À morte!’; ‘Aos campos de concentração!’” (Cardeal Lustiger).

“Os verdadeiros servidores de Deus sempre estimaram suas adversidades. Elas estão em conformidade com o caminho percorrido por nosso Senhor, pois foi pela cruz e os opróbios sofridos que Ele nos salvou” (Pe. Pio).


ORAR

            Com frequência tentamos administrar o Espírito, coisificá-lo e regrá-lo. Deveríamos, ao menos uma vez, acolher o Espírito como elemento de desordem, de improvisação, de verdadeira inspiração, de desajuste das regras fixadas e portador de coisas jamais vistas, ouvidas e antes experimentadas. Tenhamos a coragem e a ousadia de nos deixarmos habitar pelo vento e pelo fogo.
            O Espírito vem acender uma paixão e surpreender a todos, transformando-os em enamorados capazes de palavras apaixonadas. O Espírito produz entre nós um impulso, uma vibração, um entretenimento, uma comoção e um gesto de liberdade.
            Neste domingo, devemos nos deixar inebriar pelo perfume e nos permitir ser invadidos pela alegria de viver e nos surpreender pela variedade dos dons do Espírito que, na sua prodigalidade, os distribui por todas as partes e a todos sem pedir, de antemão, nenhuma autorização. O Espírito, vento e fogo, brinca, se diverte, ri da nossa seriedade e sisudez. E este Espírito, vento e fogo, tem uma característica em comum: é incontrolável e imprevisível e deixa a todos, como os apóstolos, fora de si: “Todos ficaram confusos, cheios de espanto e admiração, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (At 2, 6).
            A Igreja de Jesus só despertará entusiasmo se anunciar as maravilhas de Deus que vira tudo do avesso, como cantou Maria em seu Magnificat. Os seguidores de Jesus devem ser ousados e capazes de ultrapassar as fronteiras em busca de novos horizontes. Os homens de Pentecostes surpreenderam, não porque apareceram comedidos, discretos e ajustados, mas porque apareceram excessivos: um pouco loucos e poetas.
            O vento irrompe barulhento na casa e coloca para fora os seus ocupantes. O Espírito de Jesus arranca o medo, destrói a angústia e abre as portas que jamais deverão ser trancadas novamente. Impele os seus seguidores ao confronto cotidiano em que deverão testemunhar a vida nova e não mais a capitular em seus sonhos e nem a se acomodar na esterilidade passiva dos que buscam certezas e seguranças. O teólogo von Balthasar adverte: “Se o Espírito não tivesse vindo, o mundo e a Igreja nunca teriam compreendido que a causa do judeu de Nazaré crucificado era algo mais que um assunto provinciano e historicamente sem importância”.
            Pentecostes nos faz saber que todas as formas organizacionais, todos os nossos conteúdos programáticos estarão sempre em processo de mudança. O Espírito da Liberdade assim o quer e assim o faz, pois só ele é absoluto e definitivo na distribuição infinita e plural de dons e carismas para a construção do Bem Comum. E o Concílio Vaticano II assegura que “Deus também não está longe daqueles que o buscam como a um desconhecido, por meio de suas sombras e imagens, pois a todos dá vida, inspiração e tudo o mais (At 17, 25-28) e, como salvador, os quer salvar a todos (1 Tm 2, 4)” (LG 16).
            Jesus nos falou de uma blasfêmia e de um pecado contra o Espírito que não terá perdão. Este pecado misterioso não será, por acaso, ignorar o movimento do Espírito e termos pavor de nos queimar com o seu fogo e sermos arrastados, ao deus dará, pelo seu vento? Esta blasfêmia não será a de Lhe conceder apenas uma sutil e controlada rachadura nos muros do coração em lugar de portas e janelas abertas no corpo inteiro para que entrem o vento e o fogo?
            Não será o pecado sem perdão o de ficar em casa tiritando de frio e pretender se aquecer, estendendo as mãos sobre uma chama de faz-de-conta pintada na parede do quarto?
            Finalmente, não será um pecado sem perdão e uma blasfêmia irreparável a de sempre apregoarmos a coragem cristã sem nunca termos tentado oferecer ao Espírito, ao menos a outra metade do espaço interior que sempre preenchemos com o medo e a angústia? Não será a covardia de falarmos sempre de Pentecostes sem jamais termos nos abandonado à sua embriaguez?
            Meditemos as palavras de São Basílio Magno, do século IV: “Dele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus. Dele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado”.



CONTEMPLAR

Pentecost, Andrew Wyeth, 1989, têmpera, 20,75” x 30,625”, Coleção Particular, Estados-Unidos.



2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como tendas esvoaçando no deserto, essas redes, arautos do ar, nos avisam, com sua força escondida, que o vento é nosso aliado e que Deus nos guia com a ajuda do Espírito Santo.

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