segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).


Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo                 

Dn 7, 13-14             Ap 1, 5-8                  Jo 18, 33b-37

 

 

ESCUTAR

 

“Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7, 14).

 

“Eu sou o alfa e o ômega” (Ap 1, 8).

“Jesus respondeu: ‘Mas o meu reino não é daqui’” (Jo 18, 36).

 

 

MEDITAR

 

Olhai-o!

 

Não olhai sua divindade,

mas olhai antes sua liberdade!

 

Não olhai as histórias exageradas de seu poder,

mas olhai antes sua capacidade infinita de se doar ao outro.

 

Não olhai a mitologia do primeiro século que o cercou,

mas olhai antes sua coragem de ser,

sua capacidade de viver e

a qualidade contagiosa de seu amor.

 

Parai vossa busca frenética!

Parai e conhecei que Deus é isto:

este amor,

esta liberdade,

esta vida,

este ser...

 

Beijai esse sopro do Cristo

e ousai ser 

você mesmo!

 

Creio que é este o caminho para Deus, o Deus que encontrei

nesse Jesus tão profundamente humano.

Shalom!

 

(John Shelby Spong)

 

 

ORAR

 

Jesus contrapõe aos reinos deste mundo um reino de amor, de solidariedade e de justiça. À má-força dos poderes que subjugam temos que construir nos poros do nosso cotidiano uma anti-força: a do amor e da verdade.  A comunidade de Jesus se encontra no meio do mundo e ela não é um refúgio que nos permite evadir da nossa responsabilidade histórica. Jesus afronta os poderes políticos e religiosos ao revelar a sua descendência: “Vós sois do diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Jesus se apresenta como um semeador, como um pastor e um pescador, figuras emblemáticas da simplicidade e do despojamento. Semeia as sementes de várias espécies, pastoreia todos os tipos de ovelha e lança a rede para colher uma grande variedade de peixes. A acolhida e abertura à diversidade é a marca do Evangelho, confirmada por Francisco quando afirma que o “Senhor derramou o seu sangue não para alguns, nem por poucos, nem por muitos, mas por todos” (Discurso de Florença, 10.11.2015). Jesus é Rei de um reino longe de qualquer realeza ou triunfalismo. O élan vital da construção permanente deste reino é o amar que nos conduz à paz e à justiça para todos. Um amor como convicção, que denominamos fé; um amor como agir transformador que nomeamos esperança. Com o Crucificado entrou no mundo, para sempre, a força revolucionária do amor que declarou fora da lei e do Espírito todos as formas de poder, quaisquer que sejam. O poder que serve a si mesmo corrompe o Espírito. O amor que liberta é o anti-poder que revoluciona porque “qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá!”. Cristo nos revela que todos os que entregam a sua vida por amor e pela verdade são e serão os reis e rainhas neste reinado de Deus. No reino, aqui e agora, e para sempre, todos seremos um só no Sopro de Amor que nos une!

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

 

Coroação de Espinhosc. 1622-3, Dirck van Baburen (1595-1624), óleo sobre tela, 106 x 136 cm, Museum Catharijneconvent, Utrecht, Países Baixos.




sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).


XXXIII Domingo do Tempo Comum                                 

Dn 12, 1-3               Hb 10, 11-14.18                 Mc 13, 24-32

 

 

ESCUTAR

 

“Naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, defensor dos filhos de teu povo” (Dn 12, 1).

 

“Não lhe resta mais senão esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés” (Hb 10, 13).

 

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31).

 

 

MEDITAR

 

Hoje não existem deuses que possam ser explicitamente definidos como tais. Porém, existem forças diante das quais o homem se dobra. O capital, a propriedade em geral, bem como a ambição, são algumas delas. O bezerro de ouro é, sob diversos aspectos, de grande atualidade no mundo ocidental. O risco existe de nos reduzirmos a uma tecnocracia cujo único critério seria o aumento do consumo.

(Papa Bento XVI)

O Evangelho pode permanecer letra morta, sem vida, se ele não se incarna em nossa existência pessoal. Nós podemos ter a impressão de compreendê-lo, nós podemos dissecar cada palavra, mas se ele não se torna palavra vivente isso não serve para nada.

(D. Guillaume Jedrzejczak)

 

ORAR

 

Os textos “apocalípticos” podem nos conduzir a dois tipos de leitura: à dos anunciadores de desventuras e experts em catástrofes ou à dos semeadores da esperança e construtores do futuro. O papa João XXIII discursava na abertura solene do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 11 de outubro de 1962: “As pessoas só veem desastres e calamidades nas condições em que atualmente vive a humanidade. Temos o dever de discordar desses profetas da miséria, que só anunciam infortúnios, como se estivéssemos no fim do mundo”. Há sempre sinais de alegria nestes tempos “apocalípticos”. No profeta, os que dormem no pó da terra despertarão e os sábios brilharão como o firmamento. No evangelho, entre os escombros e as cinzas brotará uma figueira com seus ramos verdes como um presságio de primavera e dos frutos de verão. Deus tem a última palavra e é uma palavra que não passa e julgará a História. Estamos sempre diante da alternativa de escolher entre perspectivas contrastantes: boas ou más notícias; o fruto seco ou folhas verdes; o relâmpago que cega ou a luz delicada de algo que começa. O mais importante é saber que o Senhor está “próximo, às portas”; que o mundo novo já está presente dentro de nós e que na fragilidade do coração está o futuro e o eterno. A “palavra que não passa” nos garante que Deus nos chama à vida e que a chamada se coloca nem no início e nem na chegada, ela se dispõe para a gente é no meio da travessia. Devemos alimentar a certeza de que um dia chegará a Vida definitiva, sem espaço nem tempo, e viveremos no Mistério de Deus. O sol, a lua e os astros se apagarão, mas o mundo não restará sem luz. Será o Cristo quem o iluminará para sempre pondo a verdade, a justiça e a paz na história humana tão escrava dos abusos, das injustiças e das mentiras. Jesus adverte que o fruto de uma doutrina petrificada, de uma ideologia sustentada pelo terror, de uma religião fundamentalista sempre nos conduz à guerra e que diante da ruína só dispomos de um lugar de esperança: o coração. Para os cristãos, a Cruz que devem abraçar todos os dias não é derrota nem malogro, mas o advento do Humano que nos conduzirá à Vida Eterna ao destruir os poderes da Morte: “No mundo passareis por sofrimento e tribulações, mas tende ânimo e coragem, pois Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). E o Filho do Homem transformará “o deserto num Éden, o ermo em paraíso do Senhor; aí haverá prazer e alegria, com ação de graças ao som de instrumentos” (Is 51, 3) e, para sempre, a profecia se cumprirá: “O lobo e o cordeiro andarão juntos, a pantera se deitará com o cabrito, o bezerro e o leão engordarão juntos; um menino os pastoreia” (Is 11, 6). 

 

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

 

CONTEMPLAR

 

Reino de Paz, 1834, Edward Hicks (1780-1839), óleo sobre tela, National Gallery of Art, Washington, Estados-Unidos.





quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O Caminho da Beleza 51 - XXXII Domingo do Tempo Comum

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).


XXXII Domingo do Tempo Comum                      

1 Rs 17, 10-16                     Hb 9, 24-28                       Mc 12, 38-44

 

 

ESCUTAR

“‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá. Até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’” (1 Rs 17, 14).

Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9, 26).

Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada (Mc 12, 42).

 

MEDITAR

Deus se apresenta como possibilidade de amor total e nós temos que nos deixar impregnar no Espírito desse amor total. E esse amor total exige de nós uma entrega absolutíssima! É uma exigência de Deus, se soubermos ser fiel a essa paixão de Cristo, que é a paixão de sabê-Lo amá-Lo a esse ponto.

(Madre Belém)

 

ORAR

O nada que possuímos se converte no todo quando nos despojamos de tudo em oblação e em oferenda. Tanto as duas moedas quanto o pouco resto de farinha e o fio de azeite não fizeram nenhum ruído. Jesus revela que a verdadeira história é escrita por pessoas insignificantes e anônimas, capazes de gestos que não causam ruídos e nem chamam a atenção. Não podemos parar na superfície das coisas e dos acontecimentos, nem nos deixar enganar pelo clamor dos gestos espetaculares e muito menos pelas liturgias chamativas que despertam a catarse da plateia. Oferecer o que restava da farinha, do azeite e as derradeiras moedas são ações verdadeiramente grandes que só os pequenos são capazes de realizar. Eles oferecem tudo e não o supérfluo, pois “de tudo fica um pouco...”. São os gestos que nos aproximam Daquele que se ofereceu a Si próprio. Jesus acusa os que estão imersos, como valor absoluto, na vaidade, na hipocrisia e na cobiça. A vaidade expressa nas pompas das vestimentas, nas reverências e saudações, nas cadeiras de honra dos banquetes e liturgias. A hipocrisia vinda da devoção ostentosa, baseada na quantidade e extensão dos pedidos oferecidos em espetáculo. A cobiça revelada numa falsa religiosidade e na despudorada exploração dos ingênuos e crédulos. Jesus acusa a deformação profissional dos que se utilizam da posição religiosa e social para se valorizarem. O discípulo de Jesus é o que não se dá importância, o que não tem status para defender, com unhas e dentes, e nem um “padrão de vida” que mais o angustia para manter do que o liberta. A vida cristã é aquela que, ao se despojar, está sempre a caminho. São as pessoas simples, de coração grande e generoso, o melhor que temos em nossas comunidades. São as que não têm nada, mas que doam tudo! Elas fazem o mundo mais humano, acreditam com todas as suas forças no Pai da misericórdia. São as que mantêm vivo o Espírito de Jesus e, finalmente, as que mais se parecem com Ele.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller)

 

CONTEMPLAR

Dona Pilar, Canudos, Bahia, 2009, Araquém Alcântara (1951-), foto do livro “Sertão sem Fim”, Editora Terra Brasil, Brasil, 2009.