A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
XXVIII Domingo do Tempo Comum
Sb 7, 7-11 Hb 4, 12-13 Mc 10, 17-30
ESCUTAR
“Orei, e foi-me dada a prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria” (Sb 7, 7).
A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (Mc 10, 25).
MEDITAR
O caminho para a fé passa pela obediência ao chamado de Cristo. Exige-se um passo decisivo, senão o chamado de Jesus ecoa no vácuo, e todo suposto discipulado, sem esse passo ao qual Jesus nos chama, transforma-se em falsa onda entusiástica.
(Dietrich Bonhoeffer)
A única possibilidade humana de converter um rico, consiste em despojá-lo de sua riqueza.
(Murilo Mendes)
ORAR
No evangelho de hoje, Jesus revela que a riqueza e o dinheiro são mais perigosos que o demônio, pois são eles que nos bloqueiam a compaixão, a autenticidade e a coragem diante das incertezas da vida. Para Jesus, a questão essencial não é a da pobreza, mas a da riqueza. Somos consumidos pela ilusão de encontrar no dinheiro alguma coisa que poderia acalmar as nossas angústias existenciais e o avarento suja o dinheiro porque não o usa, mas o esconde e o deixa, após a morte, para a ferrugem, para os ladrões e para o diabo que dividirá a família por causa da herança material. São João Crisóstomo pregava: “O meu e o teu são a causa de todas as discórdias”. Os homens são os únicos seres do mundo a saber que jamais escaparão da realidade da morte e, diante disto, a acumulação de bens não basta para enfrentar este inverno, pois ainda que nos tornássemos ricos o nosso medo não teria limite e o nosso terror não teria fim. A única saída para o enfrentamento da nossa finitude é aceitar a nossa pobreza essencial diante de Deus, deixarmo-nos conduzir pelo movimento do Espírito e abrir os nossos corações ao desespero e à miséria dos outros. São Basílio exortava: “Procurais celeiros? Vós os tendes: estes celeiros são o estômago dos pobres que têm fome”. Jesus, neste evangelho, acalma-nos a angústia e nos faz superar a atitude de sermos, ao mesmo tempo, juízes e carrascos de nós mesmos: “Só Deus é bom”. Jesus faz o jovem rico, assim como nós, ganhar a lucidez ao descobrir o vínculo imediato que existe entre a superficialidade da sua/nossa vida e a coisificação do seu/nosso ser pelo dinheiro e pela posse desmedida dos bens materiais. É o dinheiro que nos converte em cegos à miséria que coexiste ao nosso lado e surdos aos gritos de aflição dos que são vitimados pela indigência. Uma sociedade que estimula o consumismo deixa como herança uma montanha ornada pelo vazio bocejante do dinheiro que tudo devora e que, ao digerir o devorado, expele-o como merda espiritual, cultural e religiosa. O salmista previne: “Se a vossa fortuna prospera, não lhe deis o coração” (Sl 62, 11). O olhar de Jesus, que procuramos evitar, ao virarmos a face para não ver os pobres, desnuda a nossa falência interior e a nossa impotência humana para a doação e o risco. Jesus nos revela que o cêntuplo durante esta vida não será a prosperidade das riquezas materiais, mas a riqueza das riquezas: a vida eterna. O alerta de São Francisco ecoa até hoje para a Igreja que ajudou a reconstruir: “A riqueza traz o poder e o poder dilui a presença do Evangelho”. E o papa Francisco nos lembra: “Se as coisas, o dinheiro, a mundanidade se tornam o centro da nossa vida, nos aprisionam, nos possuem, nós perdemos a nossa própria identidade de seres humanos: escutai bem, o rico do Evangelho não tem um nome, ele é simplesmente ‘um rico’” (Homilia, 29.9.2013). Meditemos as palavras de Jesus, narradas pela comunidade de Mateus: “Não acumuleis riquezas na terra onde roem a traça e o caruncho, onde os ladrões arrombam e roubam. Acumulai riquezas no céu, onde não roem traça nem caruncho, onde ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde está tua riqueza, aí estará teu coração” (Mt 6, 19-21).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Porque era muito rico, 1894, George Frederic Watts (1817-1904), óleo sobre tela, 1397 x 584 mm, TateCollections, Reino Unido.
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