quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O Caminho da Beleza 46 - XXVII Domingo do Tempo Comum

A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).


XXVII Domingo do Tempo Comum                      

Gn 2, 18-24            Hb 2, 9-11               Mc 10, 2-16

 

 

ESCUTAR

 

“Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2, 24).

 

“Pois tanto Jesus, o Santificador, quanto os santificados, são descendentes do mesmo ancestral; por esta razão, ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2, 11).

 

“Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento” (Mc 10, 5).

 

 

MEDITAR

 

O que é essencialmente novo no Evangelho, é uma nova dimensão de grandeza: a dimensão da generosidade. A grandeza é a de ser generoso; a grandeza é a de saber dar; a grandeza é a de se dar, dar todo o seu ser e de tudo dar dando-se a si mesmo.

 

(Maurice Zundel)

 

Então Ele olhou para mim, o meio-dia de Seus olhos estava sobre mim, e disse: “Tens muitos amantes e todavia só Eu te amo. Os outros homens amam a si mesmos em tua intimidade. Eu amo-te por ti mesma. Outros homens veem em ti a beleza que desvanecerá mais cedo que seus próprios anos. Mas Eu vejo em ti a beleza que não desvanecerá... Só Eu amo o que é invisível em ti”.

(Diálogo entre Jesus e Miriam de Mijdel, Kalil Gibran)

 

ORAR

 

        A narrativa de Gênesis é poética e nos desvela que é na mulher que o homem se reconhece a si mesmo: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada “mulher”, porque foi tirada do homem”. Adão descobre o seu companheiro para o amor: o ser que brota ao preço da ferida do seu coração. Este ser que o Criador lhe entrega após um longo sono era semelhante a ele, mas diverso. E o esponsal se fez: ser um para ser diverso. No Evangelho, Jesus não se refere a nenhuma prescrição da lei, mas retoma a cena da manhã original não como uma lembrança do passado, mas como a imagem do paraíso e de uma realidade essencial inserida no coração: “Os dois formarão uma só carne, assim, já não são dois, mas uma só carne”. Não havia regras para o amor, nem leis, pois não havia necessidade disto. Jesus não prescreve nenhuma legislação matrimonial. Não era casado e, escandalosamente, convidava os que queriam segui-Lo a deixar tudo – família, vida acomodada, propriedades, bens acumulados. Jesus nos afirma que a nossa única regra, que resume toda a Lei e os profetas, é a do amor, tal como existia no paraíso, pois só o seu sopro possui a amplidão e a infinitude do próprio Deus. Por essa razão, não podemos aniquilar este amor e desfazê-lo.  Podemos tornar os amantes infelizes, infligir-lhes todos os males e sofrimentos, persegui-los até a morte, mas não saberíamos matar o amor: “As águas torrenciais não poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (Ct 8, 7). Para Jesus e o seu Evangelho, o amor não tem, por princípio, necessidade de nenhuma lei que o regulamente. Jesus nos queria e quer como pessoas livres capazes de construir vínculos de amor indissolúveis que nos convertam em dom recíproco. Jesus garante que o vínculo entre os que se amam vem da força de origem divina que trazemos em nós, esta extraordinária potência libertadora do amor. Para Ele, são as pessoas, inundadas e sustentadas pelo sopro divino, que fundam e respondem pelos esponsais e não os poderes civis e religiosos que os institucionalizam. O amor salva e as leis que inventamos salvaguardam os direitos dos mais fortes. Só a dureza de coração tem necessidade de leis rígidas que nada têm a ver com as palavras de amor que Deus quer ouvir pronunciadas entre nós, criados à sua imagem e semelhança, quando viu que era belo tudo o que havia criado. Moisés legisla para proteger a mulher da maldade e desamor dos homens que, arbitrariamente, as repudiavam como se pudessem atirar a primeira pedra. Jesus, do mesmo modo nos desafia: “Geração adúltera, até quando terei que vos suportar?” E uma geração adúltera é uma geração que se prostitui aos ídolos, que hoje são produzidos pelo mercado para nos iludir e colocar em outros amores os nossos corações. E Deus perdoa ao seu Povo-Esposa o adultério, pois seu amor é sem limites e sua aliança irrevogável. Jesus não nos deixa ludibriar e esquecer que a maior traição é casar sem se esposar! 

 

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

 

CONTEMPLAR

 

O Cântico dos Cânticos IV, Marc Chagall, 1958, Coleção “A Mensagem Bíblica”, óleo sobre tela, 144,5 x 210,5 cm, Museu Nacional Marc Chagall, Nice, França.





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