Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
Exaltação da Santa Cruz
Nm 21, 4-9 Fl
2, 6-11 Jo 3, 13-17
ESCUTAR
“Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no
deserto? Não há pão, falta água e já estamos com nojo desse alimento miserável”
(Nm 21, 5).
“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez
do ser igual a Deus uma usurpação” (Fl 2, 6).
“Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o
mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 17).
MEDITAR
O Deus meu e de todos,
Que tenho feito até hoje no
mundo,
Senão te invocar para que
surjas,
Senão me desesperar porque
sou pó?
Dilata minha visão,
Dilata poderosamente minha
alma,
Faze-me referir todas as
coisas ao teu centro,
Faze-me apreciar formas vis
e desprezíveis,
Faze-me amar o que não amo.
(Murilo Mendes)
Esse é justamente o tema maravilhoso da Bíblia que
assusta a tantos: que o único sinal visível de Deus no mundo seja a cruz.
Cristo não é arrebatado gloriosamente da terra para o céu, seu destino é a
cruz. E precisamente lá onde está a cruz está próxima a ressurreição. Onde
todos ficam desconsertados diante de Deus, onde todos se desesperam com Deus, é
exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo está vivamente presente.
(Dietrich Bonhoeffer)
ORAR
No mito africano-egípcio da
origem da Vida, a serpente Atum será apresentada como o primeiro Deus que
emergindo das águas primordiais cuspia outros deuses e toda a criação. Para os
egípcios, no meio dos quais Moisés foi criado, a serpente representava a
conservação da vida, a vida salvaguardada e reencontrada. A serpente colocada
num lenho e levantada por Moisés era feita de uma liga trinitária de estanho,
cobre e zinco e brilhava intensamente refletindo a luz do sol. É uma serpente dos
ares e de luz e, segundo os mitos primevos africanos, carrega o vento e fogo e,
por isso, neutraliza a doença e a morte. No Evangelho de João, a imagem
reaparece com outra densidade simbólica: a de um Jesus Serpente que cura e
regenera e que sintetiza toda a humanidade levantada e libertada. Levantado na
Cruz, expira sobre o mundo todo o seu sopro de vida e o seu corpo é como o
bronze brilhante – símbolo solar que reflete a luz divina do alto. De Jesus,
levantado e ungido pelo sol, procede a vida e sua luz coloca às claras a bondade
e a maldade do proceder de cada um de nós. O Filho da Luz irradia uma verdade
que desarma todas as víboras da conspiração e da hipocrisia que nos espreitam.
O Homem Levantado, este Jesus Serpente, é destinado a ser visto como presença
salvadora do Pai e ponto de convergência do encontro divino/humano, de onde
flui a Vida em abundância. No prólogo de João, a luz brilhava no meio das
trevas e chegava até o mundo iluminando todo homem (Jo 1, 9). Antes, podíamos
aceitar ou não a luz; agora podemos ou não praticar o amor, pois o Corpo
Crucificado de Jesus ainda continua sofrendo nos corpos fustigados dos nossos
irmãos e irmãs. O Cristo espera de nós que sejamos capazes de sujar de vida os
olhos claros de morte que nos rodeiam e espreitam para que, ao expirarmos nosso
sopro de vida, consumemos as obras de amor e justiça que conseguimos.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe.
Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Pietá, c. 1592, El Greco (1541-1614), óleo sobre tela, 120 cm x 145 cm,
Starvos Niarchos Collection, Paris, França.
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