quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O Caminho da Beleza 43 - Exaltação da Santa Cruz

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


Exaltação da Santa Cruz         

Nm 21, 4-9              Fl 2, 6-11                 Jo 3, 13-17

 

ESCUTAR

“Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água e já estamos com nojo desse alimento miserável” (Nm 21, 5).

“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação” (Fl 2, 6).

“Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 17).

 

MEDITAR

O Deus meu e de todos,

Que tenho feito até hoje no mundo,

Senão te invocar para que surjas,

Senão me desesperar porque sou pó?

Dilata minha visão,

Dilata poderosamente minha alma,

Faze-me referir todas as coisas ao teu centro,

Faze-me apreciar formas vis e desprezíveis,

Faze-me amar o que não amo.

 

(Murilo Mendes)

 

Esse é justamente o tema maravilhoso da Bíblia que assusta a tantos: que o único sinal visível de Deus no mundo seja a cruz. Cristo não é arrebatado gloriosamente da terra para o céu, seu destino é a cruz. E precisamente lá onde está a cruz está próxima a ressurreição. Onde todos ficam desconsertados diante de Deus, onde todos se desesperam com Deus, é exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo está vivamente presente.

(Dietrich Bonhoeffer)

 

ORAR

No mito africano-egípcio da origem da Vida, a serpente Atum será apresentada como o primeiro Deus que emergindo das águas primordiais cuspia outros deuses e toda a criação. Para os egípcios, no meio dos quais Moisés foi criado, a serpente representava a conservação da vida, a vida salvaguardada e reencontrada. A serpente colocada num lenho e levantada por Moisés era feita de uma liga trinitária de estanho, cobre e zinco e brilhava intensamente refletindo a luz do sol. É uma serpente dos ares e de luz e, segundo os mitos primevos africanos, carrega o vento e fogo e, por isso, neutraliza a doença e a morte. No Evangelho de João, a imagem reaparece com outra densidade simbólica: a de um Jesus Serpente que cura e regenera e que sintetiza toda a humanidade levantada e libertada. Levantado na Cruz, expira sobre o mundo todo o seu sopro de vida e o seu corpo é como o bronze brilhante – símbolo solar que reflete a luz divina do alto. De Jesus, levantado e ungido pelo sol, procede a vida e sua luz coloca às claras a bondade e a maldade do proceder de cada um de nós. O Filho da Luz irradia uma verdade que desarma todas as víboras da conspiração e da hipocrisia que nos espreitam. O Homem Levantado, este Jesus Serpente, é destinado a ser visto como presença salvadora do Pai e ponto de convergência do encontro divino/humano, de onde flui a Vida em abundância. No prólogo de João, a luz brilhava no meio das trevas e chegava até o mundo iluminando todo homem (Jo 1, 9). Antes, podíamos aceitar ou não a luz; agora podemos ou não praticar o amor, pois o Corpo Crucificado de Jesus ainda continua sofrendo nos corpos fustigados dos nossos irmãos e irmãs. O Cristo espera de nós que sejamos capazes de sujar de vida os olhos claros de morte que nos rodeiam e espreitam para que, ao expirarmos nosso sopro de vida, consumemos as obras de amor e justiça que conseguimos.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Pietá, c. 1592, El Greco (1541-1614), óleo sobre tela, 120 cm x 145 cm, Starvos Niarchos Collection, Paris, França.





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