segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O Caminho da Beleza 13 - VI Domingo do Tempo Comum

Os transbordamentos de amor acontecem sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa Francisco).

VI Domingo do Tempo Comum                   14.02.2021

2 Rs 5, 9-14             1 Cor 10, 31-11, 1              Mc 1, 40-45

 

ESCUTAR

“Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo” (2 Rs 5, 10).

Irmãos, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (1 Cor 10, 31).

Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” (Mc 1, 41).

 

MEDITAR

A muitos só lhes resta o inferno.

?Que lhes coube na monstruosa partilha da vida

Senão uma angústia sem nobreza, e a peste da alma.

Nunca ouviram a música nascer do farfalhar das árvores,

Nem assistiram à contínua anunciação

E ao contínuo parto das belas formas.

Nunca puderam ver a noite chegar sem elementos de terror,

Caminham conduzindo o castigo e a sombra de seus atos,

Comeram o pó e beberam o próprio suor,

Não se banharam no regato livre.

Entretanto, a transfiguração precede a morte.

Cada um deve assumi-la em carne e espírito

Para que a alegria seja completa e definitiva.

 

É necessário conhecer seu próprio abismo

E polir sempre o candelabro que o esclarece.

(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)

 

ORAR

       O Espírito que reina n’Ele tem o poder de curar. De curar desde as raízes; porque é capaz de criar, de apreender o mais fundo princípio de vida e transformá-lo. O poder de curar é tão inesgotável em Jesus que Ele leva a melhor da miséria humana que se comprime à sua volta. Não recua. As feridas, os membros torcidos, as deformações, nenhuns sofrimentos O assustam. Defronta-os. Não distingue o que é mais urgente ou o que correspondesse à força que está em Si, e, simplesmente, aceita toda a gente. A palavra “Vinde a Mim” – vide Mateus, II, 28 – é por Ele realizada antes mesmo de a pronunciar. E que deixa Ele aproximar-se de Si! Não é o sofrimento humano um mar? Não é socorrer um trabalho sem fim? Quem, decidindo-se a aliviar os homens, havendo-se posto à disposição deles, não foi submergido – e feliz ainda quando se não perde a si próprio – por esta tarefa infinita? Jesus sente o sofrimento dos homens. A compaixão agita-Lhe o coração. Permite à miséria aproximar-se de Si, mas é mais forte do que ela. Não conhecemos alguma palavra do Senhor que pareça “idealista”, que deixe entender que poderia suprimir a dor. Não a sobrevoa, comovido ou entusiasta, encara-a na sua inteira e horrível realidade. Mas jamais perde a coragem, jamais Se cansa ou aparece decepcionado. O seu coração, o mais sábio e o mais sensível de todos que alguma vez bateram, é mais forte do que todo o sofrimento humano... Estaremos mais perto da verdade se dissermos: Cristo não procurou evitar o sofrimento, como sempre faz o homem. Não o desprezou. Não Se protegeu contra ele. Acolheu-o no seu coração. Tomou os homens que sofrem como eles são, com toda a sua realidade. Fez seus os incômodos, os pecados e as necessidades do homem. Há nisso uma infinita grandeza. Um amor de uma santa seriedade; sem qualquer ilusão e por isso mesmo infinitamente poderoso, porque é “um ato da verdade na caridade”, que apreende a realidade e a eleva acima de si mesma. A atividade de cura de Jesus é um ato de Deus: uma revelação de Deus e um caminho para Deus.

(Romano Guardini, 1885-1968, Alemanha)

 

CONTEMPLAR

S. Título, 2015, Fernando Zamorra, Folha Press, São Paulo, Brasil.




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