terça-feira, 16 de abril de 2019

O Caminho da Beleza 22 - Páscoa da Ressurreição


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


Páscoa da Ressurreição                      21.04.2019
At 10, 34.37-43                 Cl 3, 1-4                   Jo 20, 1-9


ESCUTAR

Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele (At 10, 38).

Vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo em Deus (Cl 3, 1-4).

Entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou (Jo 20, 8).


MEDITAR

“Ele viu e acreditou”. O que ele viu então? Nenhum objeto particular. É a ausência mesma que, plena de amor, se transforma para ele na evocação de uma Presença. Jesus, aliás, havia prometido: “Aquele que me ama será amado por meu Pai; e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14, 21).

(Enzo Bianchi, 1943-, Itália).


ORAR

            A fé em Jesus, ressuscitado pelo Pai, não brotou de maneira natural e espontânea no coração dos discípulos: antes de encontrar-se com ele, pleno de vida, os evangelistas falam, de sua desorientação, de sua busca em torno do sepulcro, suas interrogações e incertezas. Maria de Magdala é o melhor protótipo do que acontece provavelmente com todos. Segundo o relato de João, busca o crucificado em meio às trevas, “quando ainda estava escuro” e, como é natural, busca-o “no sepulcro”. Todavia não sabe que a morte havia sido vencida, por isso, o vazio do sepulcro a deixa desconcertada. Sem Jesus, se sente perdida. A fé no Cristo ressuscitado não nasce, tampouco, em nós hoje de forma espontânea ou só porque desde crianças escutamos a catequistas e pregadores. Para nos abrirmos à fé na ressurreição de Jesus, temos que fazer a nossa própria jornada: é decisivo não esquecer de Jesus, amá-lo com paixão e buscá-lo com todas as nossas forças, mas não no mundo dos mortos: aquele que vive, há que buscá-lo aonde há vida. Se queremos encontrar com Cristo ressuscitado, cheio de vida e de força criadora, temos de buscá-lo não em uma religião morta, reduzida ao cumprimento e à observância externa de leis e normas, mas sim ali onde se vive segundo o Espírito de Jesus, acolhido com fé, com amor e com responsabilidade por seus seguidores. Devemos buscá-lo não entre cristãos divididos e que se enfrentam em lutas estéreis, vazias de amor por Jesus e de paixão pelo Evangelho, mas sim ali onde vamos construindo comunidades que coloquem o Cristo em seu centro, porque sabem que “onde estão reunidos dois ou três em seu nome, ali ele está”. Aquele que vive não o encontraremos em uma fé estancada e rotineira, gasta por toda classe de tópicos e fórmulas vazias de experiências, mas sim buscando uma qualidade nova em nossa relação com ele e em nossa identificação com seu desígnio. Um Jesus apagado e inerte, que não enamora e nem seduz, que não toca os corações nem contagia com sua liberdade, é um “Jesus morto”. Não é o Cristo vivo, ressuscitado pelo Pai. Não é o que vive e que faz viver.

(José Antonio Pagola, 1937-, Espanha).


CONTEMPLAR

Sem Título, Arpi (Arpad) Atilla Szasz, 1960-, Califórnia, Estados Unidos.




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