segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Caminho da Beleza 50 - XXXI Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 50
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



XXXI Domingo do Tempo Comum             30.10.2011
Ml 1, 14-2,1-2.8-10                      1 Ts 2, 7-9.13                      Mt 23, 1-12


ESCUTAR

“Acaso não é um só o pai de todos nós? Acaso não fomos criados por um único Deus? Então, por que cada um de nós é desonesto com seu irmão, violando o pacto de nossos pais?” (Ml 1, 10).

“Trabalhamos dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vós. Foi assim que anunciamos o evangelho de Deus” (1 Ts 2, 9)

“Deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam” (Mt 23, 3).


MEDITAR

“Uma Igreja autorreferente seria um instrumento de confusão e de contratestemunho porque a marca do Anticristo é o falar em seu próprio nome, enquanto o sinal do Filho é a sua comunhão com o Pai” (J. Ratzinger, Discurso aos catequistas, 2000).

“Ter ouro falso é uma infelicidade suportável e fácil de descobrir; mas o falso amigo é o que existe de mais penoso de se descobrir” (Théognis de Mégore).


ORAR

            Este Evangelho deveria ser proclamado às portas fechadas, pois os acusados são a classe clerical, as autoridades de todos os níveis, os catequistas, os evangelizadores, os responsáveis por comunidades, gurus espirituais e teólogos de profissão liberal “que não se liberaram jamais” (João Cabral de Mello Neto).
            As denúncias se sucedem. Iniciam-se com a do profeta Malaquias que aponta o escasso interesse pela glória de Deus que acaba sendo compensado pelo prestígio pessoal e um cuidado neurótico com a própria imagem. Tudo se resume à ambição revestida de um culto pomposo, de um ritualismo exterior e de um exacerbado devocionismo. Como afirma o filósofo Gustave Thibon: “A decadência moderna é a decadência de um mundo cristão. Algo mil vezes pior do que a decadência do mundo antigo. É o apodrecimento, não apenas da natureza humana, mas do lugar de Deus no homem. A decomposição antiga era mais franca, mas o cadáver de nossa civilização está disfarçado de todos os atributos divinos: justiça, amor, verdade...”.
            O Evangelho condena o vale-tudo para uma conversão a qualquer preço: “Percorreis mares e continentes para fazer um só prosélito e, quando o conquistais, o tornais duas vezes mais digno do inferno do que vós” (Mt 23, 15). A Igreja de Jesus é um povo de irmãos, uma comunhão com o Pai, seguindo os passos do Filho e conduzida pelo Espírito. O ministério instituído por Cristo é, na sua mais íntima essência, um serviço; mas um serviço que não se reveste de um poder mundano, autoritário e absolutista, e muito menos de uma posição privilegiada que não corresponde nem ao Evangelho e muito menos à Igreja, Povo de Deus.
            Paulo nos recomenda a tratar a comunidade com tanta ternura, como uma mãe cuida do filho nas suas entranhas. Não somos funcionários de uma burocracia eclesiástica, pois a dor, a angústia e a solidão não acontecem e não cumprem os horários do expediente paroquial no qual a nossa disponibilidade tem hora marcada.
            Somos chamados a viver na profundidade das relações interpessoais ao criar vínculos que façam nossos irmãos participarem concretamente das nossas vidas cotidianas, como Jesus o fez. Devemos ser reconhecidos como servidores da comunidade e não como os que se servem dela ou desejam ser servidos por ela. Devemos nos comprometer a viver do essencial no seguimento de Jesus: anunciar a Palavra, celebrar a Eucaristia e construir a comunidade de fé.
            O Senhor sentencia: “Eu vos farei desprezíveis e vis aos olhos de todos os povos”. E o Senhor assim realiza o vaticinado porque perdemos, aos seus olhos e coração, a autenticidade e a credibilidade.
O cardeal Ratzinger alertava de que “as grandes coisas sempre começam a partir do pequeno grão e os movimentos de massa são sempre efêmeros”. Para ele, a “nova evangelização” deve estar preservada de toda retórica triunfalista e de toda a neurose de reconquista, pois não se trata de “alargar os espaços da Igreja no mundo”. E acentua: “Não buscamos a escuta para nós, não queremos aumentar o poder e a extensão das nossas instituições, mas queremos servir ao bem das pessoas e da humanidade, dando espaço Àquele que é a Vida. Essa expropriação do próprio eu, oferecendo-o a Cristo para a salvação dos homens, é a condição fundamental do verdadeiro compromisso pelo Evangelho” (Discurso aos catequistas, 2000).
Poucas exortações evangélicas foram tão ignoradas e desobedecidas como esta. As Igrejas multiplicam títulos, prerrogativas, honrarias que dificultam o viver como autênticos irmãos. Não podemos mascarar a realidade com a terminologia enganosa do “serviço” ou porque nos acostumamos a nos chamar de “irmãos” na liturgia. A questão não é de palavras, mas a de termos um espírito novo de serviço fraterno.


CONTEMPLAR

Comparecimento diante de Anás, Jean-Marie Pirot (Arcabas), 2003, óleo sobre tela, 81 x 65 cm, França.           



Nenhum comentário:

Postar um comentário