quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O Caminho da Beleza 42 - XXIII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XXIII Domingo do Tempo Comum           

Sb 9, 13-19              Fm 9-10.12-17                   Lc 14, 25-33

 

ESCUTAR

“Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor” (Sb 9, 13).

“Assim, se estás em comunhão de fé comigo, recebe-o como se fosse a mim mesmo” (Fm 9,17).

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).

 

MEDITAR

Deus é amor. Mas o amor pode também ser odiado, quando exige do homem que saia de si próprio para ir além de si mesmo. O amor não é um romântico sentimento de bem-estar. Redenção não é wellness, bem-estar, um mergulho na autocomplacência, mas uma libertação do auto-fechamento no próprio eu. 

(Bento XVI)

Deixamos pouco espaço para que esse poema que é Jesus Cristo se organize em nós e se torne verdadeiramente o canto de nossa vida.

(Maurice Zundel)

 

 ORAR

    As igrejas se exaurem cada vez mais pela quantidade de pessoas que alardeiam, com uma segurança assombrosa, conhecer a “vontade de Deus”. E a “vontade de Deus” sempre está de acordo com seus interesses, caprichos e atos duvidosos. Os dogmatismos mais vergonhosos celebram triunfos inenarráveis pelas suas intolerâncias e discriminações. O Papa Francisco denuncia que “a incoerência dos fiéis e dos pastores entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja” (A Igreja da Misericórdia). Urge suplicar ao Senhor que nos envie um suplemento de sabedoria. Jesus ensina no seu Evangelho uma sabedoria que vai contra a corrente. Nenhuma decisão pode ser tomada às pressas e, num momento de euforia, é preciso ter uma disposição para enfrentar o cansaço, uma aceitação da cruz e uma determinação de ir até as últimas consequências. Jesus não legitima nenhuma comodidade. Ele propõe uma reviravolta na escala de valores: a renúncia de todos os bens, a disponibilidade para entrar na lógica louca do amor, da doação, no abandono dos cálculos egoístas e das reservas ditadas pelo desejo de “administrar” prudentemente a própria vida. A decisão fundamental de seguir a Cristo exclui as meias medidas, as cômodas desculpas e os caprichos pessoais. Jesus testemunha que a única eleição equivocada é a neutralidade, o único compromisso imperdoável é não se comprometer e a única posição intolerável é a indiferença.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Madre Teresa com uma criança do orfanato que ela dirige em Calcutá, Índia, 1974, Nik Wheeler (1939-), Reino Unido.




 

 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XXII Domingo do Tempo Comum             

Eclo 3, 19-21.30-31          Hb 12, 18-19.22-24          Lc 14, 1.7-14

 

ESCUTAR

É aos humildes que ele revela seus mistérios (Eclo 3, 20).

Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste (Hb 12, 22).

“Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11).

 

MEDITAR

O mal do nosso tempo é a superioridade. Há mais santos do que nichos.

(Honoré de Balzac)


Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

(Eclesiastes 1, 2)

 

 ORAR

    No banquete do Reino não sentarão os que praticam o carreirismo e o escárnio mais desenfreados, a vaidade mais descarada e a ostentação mais vergonhosa. Muito menos os que buscam as posições de privilégio e os que ostentam suas torpes autopromoções. No banquete do Reino será considerada a pequenez e a humildade valerá como a titulação mais acreditada. As precedências serão invertidas e sentarão à mesa os que nada têm para dar em troca, os pobretões que não nos garantem nenhuma promoção social. Temos que nos acostumar a oferecer sem nada esperar e sem nada conceder aos interesses e vaidades. A hospitalidade oferecida aos segregados e proscritos constitui uma garantia para não sermos excluídos do Reino. Jesus apresenta duas dimensões que confrontaram os costumes religiosos de sua época: a humildade e a gratuidade do amor. A humildade cristã não é nos desprezar e nem nos diminuir diante dos outros, pois isto pode ser uma forma de orgulho. A soberba e o orgulho são os maiores obstáculos para o amor. Jesus nos faz conhecer a chave de todo o seu discurso: “Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. Haverá uma recompensa divina de uma qualidade completamente diferente do que esperamos. A experiência cristã é, antes de tudo, compartilhar o amor que vem de Deus e que cumula de alegria e ternura o nosso coração. Jesus conhece a deplorável tendência de nos colocarmos acima de todos por querer simplesmente aparecer poderosos aos olhos dos outros. Jesus revela o sentimento louco de Deus que, no banquete do Reino, reserva os melhores lugares para os pobres e para os últimos: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão os últimos” (Lc 13, 30).

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cordeiro recém-nascido se aconchega com menino dormindo, 1940, Foto de Williams/Fox, Getty Images, Inglaterra.




 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

O Caminho da Beleza 40 - XXI Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XXI Domingo do Tempo Comum               

Is 66, 18-21            Hb 12, 5-7.11-13                Lc 13, 22-30

 

ESCUTAR

“Eu, que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória” (Is 66, 18).

“Pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho” (Hb 12, 6).

“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13, 24).

 

MEDITAR

Uma religiosidade que conceba Deus como o defensor dos próprios privilégios e da própria riqueza, não merece o nome de religiosidade senão o de superstição ou idolatria.

(A. Pieris)

Perdão, pedir, não peço: que eu acho que quem pede, para escapar com vida, merece é meia-vida e dobro de morte.

(João Guimarães Rosa)

 

ORAR

    Devemos aprender a viver na imprevisibilidade: não querer saber nem “o dia e nem a hora”; nem se são “poucos os que se salvam” e nem assegurar os “primeiros lugares” (Mt 18, 1). Jesus se recusa a satisfazer este tipo de curiosidade e para isto introduz, nas nossas vidas, o elemento surpresa. A surpresa está não só na proveniência insólita, e para muitos suspeita, dos que serão admitidos ao banquete, mas também no tipo de categoria dos excluídos: “Nós comemos e bebemos diante de ti e tu ensinaste em nossas praças”. Corremos o perigo dos que se consideram privilegiados e se dão conta de que a ordem das precedências foi invertida: “Há últimos que serão os primeiros e primeiros que serão os últimos”. A salvação é universal, mas não deve ser confundida com facilidade. Se o horizonte é sem medidas, o Evangelho nos surpreende com a imprevisibilidade de uma porta estreita e ninguém está autorizado a alargá-la, nem muito menos eliminá-la. Precisamos nos desapegar de tudo o que pode criar obstáculos pela estreiteza da porta de entrada. Uma porta construída exclusivamente com material evangélico: amor e justiça alicerçados na humildade e no serviço. Tudo está colocado à luz do amor, tanto o horizonte imenso como a porta estreita; tanto o banquete universal quanto a dura exclusão dos que forçam a entrada por meio de suas pretensões farisaicas de uma fidelidade puramente exterior. O Senhor nos faz saber que, paradoxalmente, só passaremos pela porta estreita ampliando os horizontes e dilatando o coração.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

O Caminho Estreito, 2002, David Hayward (1957-), lápis, guache e giz sobre papel, Toronto, Canadá.




 

 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O Caminho da Beleza 39 - Assunção de Maria

 Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).

Assunção de Maria  

Ap 11,19;12, 1.3-6.10                   1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56

 

ESCUTAR

E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro (Ap 12, 5).

O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Cor 15, 26).

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1, 42).

 

MEDITAR

A única propriedade de Deus é a desapropriação... Se Deus é verdadeiramente essa desapropriação infinita, essa liberdade total em relação a si, ele não poderia desejar na Criação a não ser seres livres.

(Maurice Zundel)

O Abbá Poemen dizia: todas as provas que se precipitarem sobre você podem ser suplantadas pelo silêncio.

(Thomas Merton)

 

ORAR

O poeta se refere a Maria como “a catedral do grande silêncio” (David Turoldo) e reafirma o Evangelho que nos apresenta Maria de Nazaré como uma criatura do silêncio que escolhe não aparecer em primeiro plano. Sua presença está sob o signo da discrição. A Mãe desaparece totalmente no Filho: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). O Evangelho está mais pontuado pelo silêncio de Maria do que por palavras e aparições. Sua figura não é chamativa porque seus contornos se esboçam na ilimitada transparência do silêncio. Não temos o direito, sob hipótese alguma, de reduzir Maria a um rumor ensurdecedor para agregar as pessoas. O Concílio Vaticano II advertia que devemos nos “abster tanto do falso exagero quanto da estreiteza do espírito” para evitar a instrumentalização, as retóricas e os sentimentalismos (Lumen Gentium 67). Maria não necessita de sinais mirabolantes, pois confia na Palavra, abandona-se e se declara disponível. Seu silêncio expressa plenitude. A devoção à Virgem é autêntica se nos faz frequentar o terreno profundo da interioridade, da meditação, da contemplação, do compromisso concreto e da cotidianidade do mistério. Devemos, para não cair num fragoroso vazio, identificar-nos com o silêncio de Maria e termos a lucidez de que aplaudir não significa escutar. No silêncio, Deus emerge e voltamos a perceber a sua voz. Maria nos faz saber que Jesus não prega uma religião para mentalidades infantis nem para incorrigíveis entusiastas. Jesus não é um pregador sombrio, um profeta tristonho. Sua história começa com a infindável alegria de sua mãe: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Madona e Criança, Marianne Stokes (1855-1927), data da obra, dimensões e locação desconhecidas.

 


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

O Caminho da Beleza 38 - XIX Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XIX Domingo do Tempo Comum               

Sb 18, 6-9                Hb 11, 1-2.8-19                  Lc 12, 32-48

 

ESCUTAR

“A noite da libertação fora predita a nossos pais para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos” (Sb 18, 6).

“A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11, 1).

“Porque onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34).

 

MEDITAR

Somente na ação é que se encontra a liberdade. Abandona o vacilar medroso e enfrenta a tempestade dos acontecimentos, sustentado somente pelo mandamento de Deus e por tua fé, e a liberdade envolverá jubilosa o teu espírito.

(Dietrich Bonhoeffer)

Os nossos sonhos são demasiado pequenos e, se Deus os desfaz, é para que nos possamos aventurar no espaço mais vasto da sua Vida. Deus liberta-nos de pequenas ambições para que possamos aprender a ter uma esperança mais extravagante.

(Timothy Radcliffe)

 

ORAR

    Nossos hinos de louvor a Deus não podem ser confundidos com os Te Deum entoados com excessiva frequência pelos tiranos nos seus regimes autoritários e nem deveríamos celebrar a missa em praça pública no aniversário das cidades destruídas pela corrupção dos seus governantes. Perdemos a denúncia profética e não temos autoridade religiosa para denunciar, como o papa Francisco, “os que exploram a pobreza dos outros, e para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro” (Homilia em Lampedusa, 08.07.2013). A luz da Páscoa e a sua alegria brilham somente quando nenhum homem é pisoteado em sua dignidade e em sua liberdade. A vigilância, especialmente quando a noite parece que nunca vai terminar, se sustém pela esperança e exige: uma mentalidade de peregrinos, com nossos rins cingidos e lâmpadas acesas; a lucidez ante os perigos que nos ameaçam; uma fidelidade constante e uma grande sabedoria para aprender a ler os sinais, interpretar a mudança dos ventos e a coragem de responder aos novos desafios. O passado passou ainda que seja importante para nos fazer avançar cada vez mais. Recebemos em abundância para sermos ousados e não paralisados pelo medo. A fé é viver como se víssemos o invisível; como se possuíssemos o que não temos; como se apostássemos sobre o impossível. A fé não se encontra segura nos templos, nos palácios do governo, nas universidades, como um selo de garantia. A fé está em casa quando está em tendas cuja dinâmica é marcada pelo provisório e pelo transitório que respondem por uma peregrinação constante. Como afirma o cardeal Walter Kasper: “Deus se revela como Deus do caminho e como guia no percurso de uma história que não pode ser consolidada na partida, mas na qual Ele estará sempre presente de uma maneira imprevisível e na qual é sempre novamente o futuro de seu povo”. Os cristãos, ao invés de ficarem instalados, preferem a espera de contínuas e incômodas saídas para desafiadoras viagens. Os cristãos não se consideram depositários e guardiões dos pensamentos de Deus ou de uma doutrina sobre Deus, mas se sentem tocados por suas promessas. Por isso, debaixo de suas tendas não se preocupam em doutrinar-se, mas em contar estórias e causos de suas travessias. Peçamos também nós o perdão, como o Papa Francisco, “por termos nos acomodado, nos fechado em nosso próprio bem-estar que leva à anestesia do coração”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

A Ceia, Ben Willikens, 1976-1979, acrílico sobre tela (tríptico), 300 cm x 200 cm (cada painel), Museu Alemão de Arquitetura, Frankfurt, Alemanha.

 



quarta-feira, 30 de julho de 2025

O Caminho da Beleza 37 - XVIII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XVIII Domingo do Tempo Comum                       

Ecl 1, 2; 2, 21-23               Cl 3, 1-5.9-11                      Lc 12, 13-21

 

ESCUTAR

“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1, 2).

“Pois vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3, 3).

“Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15).

 

MEDITAR

Eu tenho mais apreço pelo desprendimento do que pelo amor. Em primeiro lugar, porque o melhor do amor é que ele me força a amar a Deus, enquanto o desprendimento força Deus a me amar.

(Mestre Eckhart)

Esquecer de si e passar por cima das regras habituais regidas pelo ‘respeito humano’, esse tipo de autocensura social que paralisa, para apostar tudo, para tudo arriscar, até mesmo a nossa lógica habitual, deslocada pela força de nossa fé no outro – eis o começo de outra vida, de uma cura.

(Françoise Dolto)

 

ORAR

    Que sentido tem a vida? É a pergunta que perpassa os textos deste domingo. O provisório da vida, a finitude da existência são as certezas únicas que temos. E ainda acreditamos que as posses materiais conseguem acrescentar um segundo a mais nas nossas vidas. Paulo exortava: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Tm 6, 10) e Tomás de Aquino dava o retoque final: “A avareza reside no coração e seus frutos são a inquietude, a violência, o perjúrio, a fraude, a corrupção e a traição”. Nada muda no decorrer do mundo e resistimos em aprender. O dinheiro é sempre a extensão das nossas crenças e atitudes e medimos a vida das pessoas pelo dinheiro que entra e pelo que sai. Para a alma do capitalista, quem não acumula bens não tem nenhum valor e nem poder e, no entanto, para o Evangelho aquele que acumulou riquezas perdeu a vida. A regra de ouro do Cristo em relação ao dinheiro é não acumular, mas repartir: “Não acumuleis riquezas na terra, onde roem a traça e o caruncho, onde os ladrões arrombam e roubam” (Mt 6, 19) e mais uma vez Tomás de Aquino completa: “O homem avarento endurece o seu coração para evitar que, movido pela compaixão, venha ajudar alguém à custa de suas posses e de seus bens”. O coração endurecido transforma a vida numa sucessão interminável de mesquinharias e sovinices e acredita que todo homem tem seu preço e que, por esta razão, o dinheiro pode comprar tudo: da consciência pessoal à vida cotidiana. Algumas pessoas sofrem porque não têm o que herdar, outras sonham com uma herança que possa resolver seus problemas, mas a vida tem nos ensinado que é justamente no acerto de contas da herança que a ganância e a ambição aparecem com suas garras devoradoras que destroem a suposta harmonia familiar. A ganância não conhece limites e condena o que deseja riquezas a utilizar todos os meios ao seu alcance para saciar a sua ambição de ser o mais rico possível. Tudo o que fazemos por ambição acaba em destruição e morte: “Não te inquietes vendo o outro se enriquecer no roubo, na maldade e na desonestidade. Nada poderá levar consigo ao morrer: nem sua glória, nem seu sucesso! Terão companhia no cemitério: mortos, defuntos sem vida onde jamais verão a luz, apenas a escuridão” (Sl 49). A cobiça empobrece o homem e o torna desumano e o converte num cego desprovido de uma única luz capaz de clarear a sua noite inevitável. Meditemos o provérbio árabe: “Não tente e nem se esforce para mostrar as estrelas a um cego: ele não as pode ver”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Agnus, 2022, Konstantin Korobov (1985-), óleo sobre tela, 60 cm x 60 cm, Rússia.





quarta-feira, 23 de julho de 2025

O Caminho da Beleza 36 - XVII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XVII Domingo do Tempo Comum             

Gn 18, 20-32                      Cl 2, 12-14               Lc 11, 1-13

 

ESCUTAR

“Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18, 27).

“Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” (Cl 2, 12).

“Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede recebe; quem procura encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11, 9-10).

 

MEDITAR

Não era o ar movido pela voz que chegava aos ouvidos do profeta, mas Deus que falava em seu íntimo.

(São Jerônimo)

A oração é o secreto absoluto. É totalmente oposta à publicidade. Quem ora já não conhece a si mesmo, mas somente a Deus a quem invoca.

(Dietrich Bonhoeffer)

 

ORAR

    Duas cenas ficam gravadas na memória: a estupenda negociação entre Abraão e Deus e o colóquio noturno entre o indivíduo inoportuno e o amigo despertado de sobressalto à meia noite. Uma oração de intercessão e a outra de petição e ambas sob o signo da insistência, da coragem, da confiança e, inclusive, do enfrentamento. Ambas são escutadas. Até então, as culpas de um ou de poucos eram pagas por toda a coletividade e agora Abraão pede com humildade, mas com decisão, para que a inocência de uma minoria seja motivo de perdão para todos os outros pecadores. Abraão descobre que no Senhor encontra-se uma justiça disposta a dar espaço ao perdão e que, em Deus, a vontade de salvar prevalece sobre a de castigar. No Evangelho, a oração é um apelo não ao juiz da terra, mas a um Deus que é Pai. Cristo autoriza a nos dirigirmos a Deus como Pai, esta palavra-chave que abre de par em par todas as portas, inclusive as mais inacessíveis e legitima as aspirações as mais impossíveis. Não se trata de colocar na balança o peso dos justos, mas a nossa condição de filhos e filhas. Podemos pedir ousadamente e, ao mesmo tempo, neste pedido, nos comprometemos. No Pai Nosso escutamos o que Deus espera de nós, ou seja, exatamente as mesmas coisas que pedimos a Ele. O Pai nos escuta, mas não nos tempos e nos modos fixados por nós. Podemos estar seguros que “o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” e o Espírito Santo é o princípio da liberdade e da imprevisibilidade. O Pai nos escuta, certamente, mas do seu modo que é o da generosidade infinita de um pai e não do nosso modo que é sempre redutivo e restritivo. Nós cristãos, devemos preferir sempre um Deus que nos surpreenda a um Deus que nos satisfaça e nos contente, pois devemos confiar mais em suas respostas do que em nossas perguntas, mais nos seus dons do que em nossos pedidos. A oração ensinada por Jesus deve nos conduzir a um silêncio de escuta do nosso ser que vibra em sintonia com a humildade da entrega – “Seja feita a tua vontade”, e com a permanente insistência – “Mas livrai-nos do mal”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Reflexões da Fé, 2014, Celso II Creer (1979-), Monochrome Photography Awards 2014, Abu Dhabi, Emirados Árabes.